Tudo o que se Cala no silêncio de um Poeta

Wilian Andrade

 

Quando um poeta se cala...
Calam caneta e papel.

Calam paixões escondidas
Em folhetos de cordel.

Calam, também, as estrelas,
Cadentes, nuas no céu.

Quando um poeta se cala
Também se cala o pinho,

Com ponteios acanhados,
Bordoneando nos espinhos
De uma flor de Juá
Que lhe negou seus carinhos...

Quando um poeta se cala...
Cala também a cordeona,

Oito baixos, que roncava
Uma cantiga
chorona
E agora ronca a saudade
De uma milonga gaviona.

Quando um poeta se cala
Cala o
ginete fronteiro,

Que, num pealo, se agarra
E depois salta faceiro,

Pois bem montou o malino
Com sina de caborteiro.

Quando um poeta se cala...
Também se cala a porteira,

Que já rangiu, campo a fora,

E fez brete na mangueira,

Mas cansou da longa espera,
Deixando rastros e poeira.

Quando um poeta se cala...
Cala a roldana do poço.

Água caindo do balde,

Qual os meus sonhos de moço,
Enforcando pensamentos...
Corda envolvendo o pescoço!

Quando um poeta se cala,
Calam miles como eu,

Que sentiram falta d'um verso
Quando a rima se perdeu,
Sequer deixando suspiros
Pra alma que pad
eceu.

Quando um poeta se cala...
Cala a
lenha
do fogão.
Também, o estalo da brasa
Que acende o fogo de chão,
Aquecendo as ansiedades,
Sofrenando a solidão.

Quando um poeta se cala
Cala a voz do cantador,

Que já não tem poesias
Para entregar seu amor,

Na janela do ranchinho
Onde mora Ana Flor!

Quando um poeta se cala...
Também cala o
bem-te-vi,
Que, por anos, assoviou
E agora põe-se a partir,

Por causa de um sentimento
Que nunca pode sentir...

Quando um poeta se cala
Cala a voz da sanga rasa,
(espelho dos meus segredos)
leito de águas escassas.

Lá busquei relembranças...
...memórias batendo asas!

Quando um poeta se cala
Calam meus sonhos, assim.
Silenciam-se os rabiscos
Daqueles versos sem fim,
Pois quando cala um poeta
Cala um pedaço de mim!