RETORNO
Otávio
Lisboa
Benzido… corpo e raíz…
Na inconstância do tempo;
Eu que já chorei lamentos
Pelas frestas da minha copa,
Eu que fui pouso de tropa
Descanso de casco e crina…
Poema que a chuva ensina,
Abrigo de tantos outros…
Pra depois voltar aos potros
E reencontrar minha sina!
Terra… Querência e semblante…
E que me viu mais serena;
Tapera que me condena
A ser bem mais que minha sombra!
Paisagem que me ‘nombra’
Na idade avessa das horas,
Luas, sóis, se vão embora!
Canta o galo dos meus dias…
Mesma chuva, mesma poesia
Outra luz em paz de aurora!
Corredor… vida e destino,
Na mais sincera intenção…
– Já teve mais coração! –
Quem me arranca ‘das casa’,
Pensa que empresta asas
No seu ofício imperfeito,
Se ganho o céu d’outro jeito
Já não importa,
senhores…
Viverei pra’os
sentadores
Me chamarem de respeito!
Outra lida… mesmo cerne,
outra forma em céu aberto…
Ilusão de ser liberto
Sem os buçais
da raíz!
Vento que sempre quis,
Ser prece em noite de ateu,
Pedindo um sopro de Deus
Pra desfolhar corpo e alma…
Se sou a essência da calma
Agora, bem mais longe dos meus…
Mangueira… verso e morada…
Onde refiz toda vida;
Pensei que ao mudar minha lida,
Se
extraviaria o sentido!
Engano… o tempo é comprido,
E nos entrega verdades;
Somos muito mais que a vaidade
Que mostra as pilchas
na poeira,
Somos terra… somos madeira,
Sombra, fogo e eternidade…
Falquejado… ‘pañuelo’
de couro…
Outra paisagem me ronda;
Agora que a lua redonda
Me vê de corpo franzino…
Coragem, sol - meu destino -
No buçal
(trança que abraça),
De algum manso que adelgaça
Ou um xucro sem costeio,
Do tirão que já me veio…
Do tempo que nunca passa!
Sereno… Que agora me entende…
Como eu entendo a geada…
Enquanto era alta e copada
Beijava as
estrelas primeiro!
Hoje, palanque campeiro,
Rude nas feições que habitam,
Clarões no chão me visitam
Se a água empoça o espelho!
Meu galho… um cabo de relho…
Pras cismas que ‘inda’ palpitam…
Benzido… eterno em coragem…
Retorno em paz com minha sina…
Do tempo que me arrocina
Pro cerne cambiar de
rumo,
Cravado no mesmo aprumo
De um potro - crina e tirão! -
Terra, trança
e redomão
Na inconsciência da madeira,
Pra quem vive na mangueira
Com raizes
no coração!