Palanque
Elói
Ribeiro Marques (In Memoriam)
Palanque de puro cerno
D’um angico falquejado,
Eu te conheci cravado
A poucos metros da casa,
Vermelho como uma brasa
Sempre firme e oportuno,
Carrega sinais da lida
Marcas de casco e mordida
E chifradas de turuno.
Bem no centro da mangueira,
Ou na saída do brete,
Tu nunca baixou o topete
Pra ventena sentador,
Demonstrando teu valor
Que golpe nenhum te aflige
Grosso, retaco e bonito
Com todos os requisitos
Que a lida campeira exige.
Um metro e pico enterrado
Mais firme que uma rocha,
Leva trompaço e não frouxa
Vai atravessando inverno,
Sem nada abrandar teu cerno
Sujo de pelo e de baba,
Suor e ganas de couro,
Mas nunca frouxou pra touro
Potro xucro ou vaca braba.
Palanque, teu nome basta
Pra dizer o que tu é,
Vejo um cacique de pé
Ao evocar tua estampa,
Todo lanhado de guampa
E as cicatrizes mais feias
Justificam tua conduta
Estes vestígios de luta
Só carrega quem peleia.
Sem nunca pedir quartel
Eu admiro teu jeito
Sempre impondo respeito
Bem entonado e sizudo,
Tira cisma de beiçudo
Sem precisar de pretexto.
O Rio Grande era guri
Tu já andavas por aí
Com a história no cabresto.
O teu entono de taura
Quanta lembrança me trás,
Do patrão e o capataz
Fica falando em segredo,
As vezes louco de medo
Que tu frouxa-se o repuxo
E tu nunca frouxou um tento
Sem gemido e sem lamento
Como quem diz sou gaúcho.
Vai te afastando aos pouquitos
Como tudo neste mundo,
Deixando um vazio profundo
Pra quem viveu ao teu lado,
Eu já estava acostumado
Com tua ajuda na campanha,
Mas enquanto tu descansa
Vou vivendo com as lembranças
Das tuas proezas e façanhas.
Quem esquece sua cultura
É difícil ser feliz,
Deixa apodrecer a raiz
E o tarumã vem abaixo,
Mas eu sei que tu é bem macho
E este tirão te pertence,
Por isso estou te implorando
Que tu fique palanqueando
A cultura rio-grandense.