ASSOMBRAÇÃO

Joseti Gomes

 

Quando acordei, hoje cedo,

eu pouco fazia ideia

das tramóias que o destino

preparara pra um menino

que pouco entende da vida.

Depois da cuia de mate,

do meu café com bolacha,

vesti a velha bombacha

e me bandeei para a lida.

 

Pendurada na guaiaca

minha arma companheira

e um saco de munição

que conhecia a intenção

da minha sina de andar.

Todo o dia a mesma cena,

meu jeito de andar ligeiro

tinha um cusco companheiro

que me entendia no olhar…

 

Chapéu de palha pro sol,

que o meio dia é mui quente!

Uma merenda pra fome,

que a prevenção faz o homem

e eu não sou desavisado.

Saio batendo na marca

que eu sou um tanto monarca

com meu petiço encilhado.

 

Assim se dá todo dia…

Todo dia a mesma cena…

Saio pros lados do mato

e volto manso, feito gato,

pra não chamar atenção.

Eu jamais perdi a hora

pois quem teme, não demora,

evita o peso da mão…

 

Porém hoje, eu lhes conto,

foi que o caso sucedeu…

Alguma coisa me dizia

que a munição qu'eu trazia

era pouca pra empreitada.

Confesso, levei um susto,

apeei, aticei o cusco

e me vi numa enrascada.

 

No início era só um ronco,

mas tinha junto um gemido

que eu custei a compreender…

Eu sabia o que fazer,

afinal, estava armado!

O "Capão do Corredor"

foi cenário de horror,

pegou fama de assombrado.

 

O dito ronco ou gemido

engoliu o meu cachorro

que no mato se embretou.

O que mais me apavorou

foi não poder lhe encontrar.

Na minha mente eu corria

mas na verdade eu não saía

nem um palmo do lugar.

 

Então puxei do bodoque

e foi tal metralhadora,

foi um tiro atrás do outro.

Fiquei um pouco nervoso,

mas dei um fim neste ato.

Arranquei os pés do chão

e gritei co'a assombração

"tu aparece ou te mato!"

 

Foi tudo tão de repente

que quando me dei por conta

estava junto das casas…

Os olhos, um par de brasas

por conta do reboliço.

O cusco muito assustado,

apareceu do meu lado

mais parecendo um ouriço.

 

Foi mui difícil explicar

mas acho que ele entendeu.

Voltei pra buscar mais pedra!

Um cusco, que a gente herda,

nunca se deixa na mão.

Mas uma coisa lhes digo,

nunca mais contem comigo

pra caçar assombração!