Entre o Abajur e o Espelho!

Paulo Ricardo costa

 

Balbucia um vento norte,

Embebido de nostalgia...

Anunciando a noite morta,

Velada em paredes frias,

Metamorfose de sonhos...

Sentimentos em ebulição,

Fumaça solidificando imagens,

Na estupidez da Solidão!

 

Olhos insanos (goteiam),

Dores que guardo por dentro,

Bocas famintas desejam...

O mundo que passa lento.

E o tempo se faz escasso,

Ludibrie – de som profano,

E vai me corroendo, pedaços,

...de amores e desenganos.

 

Entre o abajur e o espelho,

Uma aranha faz sua obra...

Não quer saber de conselhos,

Inerte ao tempo que cobra.

- cospe a sua ira na teia...

Como a conter o espaço,

Enquanto a luz encandeia,

O espelho mostra o que faço.

 

O tempo esculpiu no barro,

Banhado a gotas de vinho,

A borra de alguns cigarros,

Mostra que fiquei sozinho.

Onde o silêncio reclama...

Calado em sua masmorra,

E deita-se em minha cama,

Pedindo que lhe socorra.

 

Lúcidos – loucos – Poetas,

Que trocam a noite por dia...

De vida insana e incompleta,

...se alimentam de poesia.

Entre as parede do quarto...

Há um caderno rabiscado...

Guardando os tristes relatos,

Tantos amores guardados.

 

E o vento beija a vidraça,

(Como a beijar minha face),

Enquanto a lua faz graça,

Em cada verso que nasce.

E a mão que segura a taça,

Já tremulante, do vinho...

Limpo as lentes que embaça,

...na louça do pergaminho.

 

Lençóis de seda e estampa,

Dobrados na forma de espera,

Contrastam a cortina branca,

De um quarto quase tapera...

Rabiscado em tons de gris...

Pelas paredes sem vida...

Como se o tempo, infeliz,

Não me quisesse de partida.

 

E aqui vivo, pra ser sincero,

Como um poema inacabado,

Porque o fim que mais quero,

Parece que me foi negado.

Então sigo sem meus amores,

Porque todos já me deixaram,

Na triste sina dos sofredores...

Que da poesia se adonaram.

 

Bebericando as lembranças,

(Como a chicotear-me de relho),

Fico medindo a distância...

Entre o abajur e o espelho.

A embriagues me conforta,

Da dor dos meus pesares...

E me tranca ante a porte,

Bem longe do ecar dos bares.

 

Aprendi que a vida é incerta.

Num quarto frio de cimento,

Me fingindo de ser poeta...

Pra não morrer de lamentos,

E em cada noite pequena...

Golpeado ao tempo que faço,

Revivo ao bailado da pena...

E em cada verso...renasço!