UM
HOMEM DE FERRO
Concurso Literário do Enart 2004 – 3º Lugar
Ibani Jorge Bicca
Toca
o fole,
bate
o ferro,
que
tem cor de por-do-sol.
O
ferreiro vai batendo,
batendo
na sorte maula,
que
não lhe deu outra escolha,
pois
foi criado ferreiro,
com
ferro no coração.
Que
ironia Senhor,
é a
vida deste pobre!
Bate
o ferro por uns cobres,
que
não cobrem seu sustento.
A
mulher lava pra fora
e
planta horta quando dá.
O
piá faz changa no povo,
pra
comprar tamanco novo,
e
ir na escola estudar.
Ferra
a roda da carreta,
bate
a enxada e o machado,
bate
a ponteira do arado
que
de lavrar se gastou.
Solda
o freio do campeiro
que
na doma se quebrou,
e
faz a trempe de ferro
que
o patrão lhe encomendou.
Passa
o dia e chega a noite
e
não tem hora pra parar,
pois
prometeu terminar
o
serviço que assumiu.
E
só termina a jornada
depois
que a lua subiu.
Cansado
deita na sala
e
se cobre com o velho pala,
pois
não deseja acordar,
a
china que já dormiu.
O
sono lhe traz os sonhos...
Que
sonharia o ferreiro?
Será
que sonha ser rico
e
poderoso estancieiro?
Ou
um comerciante abastado,
contando
muito dinheiro?
Pois
seus sonhos são humildes,
quer
pouco pra ser feliz.:
Sonha
com um fole novo,
que
o velho já está furado
e
com três barras de ferro,
pra
fabricar dois arados.
Canta
o galo no poleiro,
mas
não acorda o ferreiro,
que
há muito já está mateando,
e
solito matutando,
como
vai fazer a marca,
que
o coronel desenhou.
Larga
a cuia. Acende a forja
e
recomeça a labuta.
É
mais um dia de luta
em
honra a Nosso Senhor.
-
Guri me traz mais carvão.
-
Depois me alcança a marreta,
que
o ferro já está no ponto.
“O
velho galpão pendido,
que
agasalha a ferraria,
o
fole, a forja, a bigorna,
a
talhadeira, a tenaz.
A
marreta que sobe e desce,
moldando
o ferro aquecido:”
Este
é um retrato querido,
que
mora em minha lembrança,
desde
os tempos de criança.
E
aquele homem de ferro,
com
orgulho eu repito:
Este
ferreiro bendito,
que
da minha idéia não sai,
pois
não consigo esquecer...
Sinto-me
honrado em dizer,
era
de fato,...meu pai!