TEMPORAL
TONINHO LIMA
DE PRONTO ESCURECEU
NA TARDE FRIA CINZENTA
TROVOADAS E RELÂMPAGOS
RAIOS E UMA FORTE VENTANIA!
PRAS BANDAS DO LITORAL
ARMAVA- SE UM TEMPORAL
O VENTO SOPRAVA FORTE
LEVANTANDO O AREIAL.
EMBAIXO DO ARVOREDO
OS ANIMAIS SE ABRIGAVAM
COM MEDO TODOS BERRAVAM
NAQUELE FINAL DE DIA
VACAS PERDERAM SUAS CRIAS
E OS TERNEIROS ALVOROÇADOS
CORRIAM PRA TODO O LADO
PRA FUGIR DA VIRAÇÃO
CREDO
TREMIAM APAVORADOS.
PÁSSAROS EM REVOADAS
POUSAVAM NAS TAQUAREIRAS
BEM-TE-VIS E SABIÁS
NOS GALHOS DA PITANGUEIRA
A CACHORRADA DA ESTÂNCIA
BEM NA FRENTE DO GALPÃO
LATIAM EM ALGAZARRA
PRA CHAMAREM ATENÇÃO
DE REPENTE SILENCIOU...
E O AGUACEIRO CAIU
CORUJAS SOLTANDO PIOS
CORRIAM PRA SUAS TOCAS
ARBUSTOS EM MASSAROCAS
DESLISAVAM NO TERREIRO
AO LONGE OS BARCOS PESQUEIROS
RECOLHIAM-SE APRESSADOS
NO MAR REVOLTO ENCRESPADO
SÓ OS NAVIOS PETROLEIROS.
COMO É BRABO UM TEMPORAL
ENXURRADAS E VENTANIAS
AS NOITES FICAM MAIS FRIAS
O VENTO SOPRA NO RANCHITO.
E PARA UM TAURA TÃO SOLITO
TUDO FICA MAIS TRISTONHO
O VENTO CARREGANDO OS SONHOS
DEIXOU-ME A SOLIDÃO PRA
COMPANHIA
RASURANDO A MELODIA,
QUE
GEMENDO A VELHA FIGUEIRA
SENDO FERIDA E AÇOITADA
PELO VENTO EM CHIBATADAS
TRONCO PARTIDO A LAÇAÇOS
O VELHO UMBU NÃO RESISTIU...
E TOMBOU NUM SOLUÇO FRIO.
A CORTICEIRA FLORIDA
BEIJANDO AS FLORES CAÍDAS.
SENDO ARRASTADAS DESPIDAS,
NA CORRENTEZA DO RIO.
AS ONDAS SE AGIGANTAM...
VENTANIA!
ASSIM NÃO POSSO ENCONTRAR
UM PORTO PARA ANCORAR,
O MEU BARCO-CORAÇÃO TODO
PARTIDO.
INVADEM BRUMAS ESCURAS
NESSE FUROR, É LOUCURA
QUERER SEGUIR VELEJANDO
SENTE A VIDA NAUFRAGANDO
ENTRE O VENTO E AS LONJURAS.
ENCOLHO-ME MAIS NO MEU CATRE
ENROLADO NO MEU PONCHO
UM FOGUITO AQUECE O RANCHO
EU ME PERCO DEVANEANDO
O VENTO CHORAMINGANDO
TRAZ GOTEIRAS PRO MEU ROSTO
VENDAVAIS NO MÊS DE AGOSTO
NÃO LEVA A SAUDADE EMBORA
EU SINTO O FRIO DE QUEM CHORA
COM O OLHAR DE SOL JÁ POSTO!
NEM O MATE ME CONSOLA
NAS NOITES DE VENDAVAIS
A SOLIDÃO CRESCE MAIS
ARROMBA JANELAS E PORTAS
EU RABISCO AS RIMAS TORTAS
NA FÚRIA DOS OCEANOS,
E O BARCO DOS DESENGANOS
PERDEU O RUMO DO CAIS
NOS TEMIDOS TEMPORAIS
QUE VEM ATRAVÉS DOS ANOS.
QUE OS TEMPORAIS ME DEVASTEM
LEVEM TUDO QUE ME SOBROU
O QUE JÁ FUI O QUE HOJE SOU
TÃO POUCO TENHO A GUARDAR!
NÃO TENHO NEM ONDE ENCOSTAR
MEUS DESABRIGOS E MEUS AIS
O VENTO ARRASOU O MEU CAIS
A VIDA FOGE COMO ÁGUA POR
ENTRE OS DEDOS
SOU APENAS UM BARQUINHO DE
PAPEL
PERDIDO ENTRE AS ONDAS E OS
ROCHEDOS...