RETRATO ABSTRATO DA QUERÊNCIA

Neiton Perufo

 

Eu nunca notei que as casas antigas

Perdidas pelas vielas da cidadela

aninhavam do porão ao telhado,

entre cada tábua ou quarto

as almas puras de quem habitava nelas.

 

Eu nunca notei que as flores dos alecrins

Exalavam os pagos em florescência,

Que o solaço de janeiro em quietude...

É pretexto pra se banhar nos açudes

e campear sombra pela querência.

 

Eu nunca notei que “os meus desta terra”

São realmente campeiros de toda a lida

que os potros por arrocinados

vão com sentimentos acolherados

E em si nos campos e estradas da vida.

 

Eu nunca notei que pra um andejo

a distância ofusca antigas imagens,

nubla os retratos emoldurados na memória

se torna dolente a cada nova trajetória

E o bem-querer é rumo de nova paisagem.

 

Eu nunca notei, que nas invernias

Quando sopra o velho minuano,

o bailar do fogo é sustento e calma

pra um amargo que aquece a alma

quando retrata um verso pampeano.

 

Eu nunca notei que o chiar da lenha úmida

É a melodia do fogo num sofrenaço de inverno

Lenha serrada de mato, na costa d’algum rio

Madeira boa de brasa, espinilho que o campo pariu

Chaminé soltando fumaça, no velho rancho fraterno

 

Eu nunca notei que a planura destes campos

São cancha reta para as carreiradas

Que o mirar pela dimensão estendida

É a imaginação nas pupilas perdidas

a cada matiz da aurora desdobrada.

 

Só a distância prega saudade num coração!

A lonjura nubla os retratos da memória

as telas coloridas moldadas na lida de campo

são assombradas inquietudes que causam espanto,

marcas e sinais ocultadas no couro da história.

 

Quem retrata de forma abstrata a querência

Tem nostalgias pirografadas com emoção,

Tem sentimento fertilizando a essência,

Tem muito mais que um verso por experiência

Tem amor ao falar do pago com o coração!