O ARAME

Ubirajara Anchieta


A terra bravia
nunca teve limites.
Nem oceanos, nem montanhas,
Impediram a busca de encontrar
o ponto da união entre céu e terra
Cada passo dado
mostrava sempre um lugar novo
abrindo interrogações...
Instigando descobertas...
O arame
-invenção dos homens-
trouxe limites.
Prendeu a liberdade,
dos potros, do gado e dos gaudérios
que fizeram estradas e querências
quando a sombra,
as aguadas e o pasto eram atrativos
-forte laço, aquerenciador.-
O arame
não era um simples fio de
metal atirado ao campo.
Tinha ciência, o alambrado!
O alambrador plantou
a olho e régua,
cernes para moirões
e mestres de porteiras.
As tramas,
trastos, para o semitonado
talareio das canções do vento
no braço longo da sesmaria-viola,
que talhava campos
no limite incerto de poder e glória.
O mestre alambrador
embriagado pela melodia...
Feliz pelo feitio daquele instrumento
orgulhoso ria...por uma divisa...
Que havia feito sem saber porque.
O arame
- instrumento da mais-valia-
instituiu donos à terra e aos animais,
permitiu que o homem
impedisse a escolha natural,
apartando haréns,
para touros e baguais.
O arame
limitou estâncias e invernadas
que mermaram no tempo.
Hoje, eletrificado,
limita potreiros,
e, para proteger,
em terrenos urbanos,
guiza de liberdade-
mantém os próprios donos
embretados na propriedade.
O arame
só não segura o ideal,
que por roceiro,
não tem pescoço ou corpo...
É só cabeça!
Não se lhe assenta cangalha,
não é apegado à terra,
anda no ar...
Propaga-se no ar...
Existem prisões e limites sem aramado...
Mas,
ideais...
Não têm limites,
nem arame que os prenda!