NOITE
DE VOLTA
Jayme Brum Carlos
Os
grilos fazem seresta
pra
insônia dos quero-queros.
Uma
estrela gaviona
rumbeia
outras querências
deixando
um rastro bonito
na
imensidão da hora morta.
Uma
coruja curiosa
no
trono de um contra-mestre
indaga
preocupada
se
eu achei os cavalos.
Depois,
pede silêncio
pra
filosofar pensativa
ao
ver a lua minguante
despontar
no horizonte.
Parece
meio intrigada,
como
a se perguntar:
“
Onde será que ficou
a
outra meia-lua da lua?...”
Os
sapos em acalanto,
embalam
o sono calmo
da
várzea, em lençóis de prata.
Um
bando de alvas garças
estende
um poncho de paz
na
copa dos sarandís.
- A
estrada é linha de espera
fisgando
as ânsias da gente.
As
crinas do baio-ruano
vão
se revezando em brilhos
co’as estrelas do Cruzeiro
que
nos atraem pro Sul.
Os
cascos arrancam ecos
das
entranhas do caminho.
Pra
quem vagueia sozinho
são
compassos ritmados
pra
sinfonia dos grilos
em
contracanto às esporas
quebrada
de quando em vez
pelo
sapucaí perdido
do
sonho de um João-Barreiro.
De
repente, um dorme-dorme
levanta
vôo... e o meu baio se nega
e
quase me tira.
Depois
tranqueia oitavado
bufando
e trocando orelhas.
-
Qualquer faísca é centelha
pra
um cavalo apoderado.
Ao
cruzar ante a tapera
onde
um silêncio de ausências
torna
a noite mais quieta,
um
cheiro de maçanilha
perfuma
o meu assobio.
O
olhar mira as estrelas
que
mergulham nos lagos
junto
à um pedaço de céu,
que
se desprendeu do infinito.
-
São as luzes da ribalta
no
palco dos devaneios.
O
pensamento tranqueia
no
lombo da fantasia
e a
mente liberta imagens
que
um dia o subconsciente
embretou
dentro de si.
- A
noite é coxilha larga
para
os rodeios do sonho.
A
tropilha dos recuerdos
vem
pastar no horizonte
onde
os olhos distraídos
tentam
prender as silhuetas
que
cruzam o pensamento
e
se perdem noite adentro.
-
No cenário da saudade
a
mesma protagonista.
Cenas
de mates e catres
se
revezam entre suspiros
que
a noite transforma em brisa.
...
Então o mate do estrivo
sempre
me vem a lembrança:
-
Os lábios dizem adeus
e
os olhos pedem que fique.
Os
anseios da partida
nos
mandam seguir depressa,
pois
quanto antes se parte
mais
cedo a volta começa.
Como
é bom voltar ao rancho
e
vê-lo sorrir na noite
com
seu sorriso de luzes
emoldurando
a figura
por
tantas vezes lembrada.
Há
sempre um sorriso a espera
de
quem quinchou de carinho
o
rancho das emoções.
Só
entende a noite pampeana
na
sua intimidade
os
que, empeçando jornadas,
tem
motivos pra voltar.