Mulher Gaúcha
Nilza de Castro
Eu
venho de muitas eras,
nasci
em terra de guapos,
dos
Charruas, dos farrapos
eu
trago o instinto guerreiro,
sou
heroína da história,
tenho
altivez e coragem,
meu
sangue misto, selvagem,
não
conheceu cativeiro!
Sou
o Rio Grande nascendo
das
entranhas dos heróis,
sou
madrugada de sóis,
no
tempo das sesmarias...
Sou
a carícia dos ventos,
sou
a flor de corticeira,
sou
lenço branco, regeira,
e
poncho das noites frias...
Sou
suspiro de calhandra,
sou
rancho de santa-fé,
sou
Jussara de Sepé,
nos
templos das reduções...
Sou
artesã, aprendiz
dos
teares dos jesuítas,
almas
nobres, eruditas,
gênios
das Santas Missões!
Meu
orgulho foi legenda
nas
guerrilhas cisplatinas
e
nas horas matutinas
ouvi
tropel e tambores...
No
ocaso, vi sóis de sangue,
na
noite vi soledade
vi
os filhos da orfandade
e
cemitério sem flores...
Evoco
a Princesa Moura
no
misterioso Jarau,
sou
a valentia de Bláu
na
furna escura e sombria...
No
pastoreio da lenda,
campeio
a baia tropilha
que
se perdeu na coxilha
nas
barras loiras do dia.
Sou
a ternura de um berço,
sou
pomba rola arrulhando...
Sou
cacimba murmurando
as
queixas dos veios d’água...
Sou
a querência estendida
nas
esmeraldas dos campos,
sou
a luz dos pirilampos
que
acendem olhos de mágoas...
Sou
rancho triste, tapera,
sou
viola em peito amante,
sou
mate amargo espumante
que
corre de mão em mão...
Sou
fandango em pulperia,
corredor
das carreteadas,
sou
sinaleira de estradas
nos
postos de produção.
Sou
o ruído explosivo
das
semeaduras agrárias,
regando
o solo das áreas
de
espigas loiras, maduras,
sou
a matriz do progresso,
sou
a terra hospitaleira,
que
traz no peito a bandeira
das
esperanças futuras.
Sou
a cruz que cinco estrelas
desenham
no céu azul,
sou
o Rio Grande do Sul,
sou
insígnia, sou brasão!
Sou
flor agreste dos pampas,
herança
de estirpe guapa,
na
parte extrema do mapa
sou
a ponta do coração!