Mistérios da Noite
Escura
José
Atanásio Borges Pinto
Quando
a noite se aproxima
e a
tarde se faz silente
nos
confins de um fim de mundo,
o
medo da noite
escura
cava no peito
da
gente um sentimento profundo ...
O
olhar varando a noite
perdido
na escuridão
traz
medo de lobisomem,
de
fantasma e assombração!
O
campo, a mata e o arvoredo
-
Quando escurece de fato -
trazem
visões e segredos,
mistérios
que vão crescendo
lá
para o lado do mato.
Os
olhos da casa grande
espiam
pelas janelas,
criando
estranhas figuras
que
dançam à luz das velas ...
O
silêncio engole a noite
e a
devora num segundo,
quando
o vento sorrateiro
traz
segredos e mistérios
das
profundezas do mundo ...
Ao
derredor dos fogões,
nessas
noites de invernia,
a
gurizada se arrepia
ouvindo
estranhas estórias ...
Lá
fora, pelos oitões,
prenunciando
assombrações
o
minuano assovia ...
Os
causos vão desfilando
se
consumindo nas horas ...
O
coração bate forte,
e o
vento que vem do norte
fica
assoviando lá fora.
“
... era uma vez ... certa feita ... ”
diz
o vovô. “Já faz tempo,
na
volta de uma tropeada,
uma
mula-sem-cabeça
espreitava
na porteira ...
como
era feia a danada!...”
Boitatá,
assombração,
bicho-papão,
lobisomem,
povoando
a imaginação ...
Um
tempo bom em que a gente
cresce
depressa e se sente
meio
guri meio homem ...
Tempinho
bom de criança
correndo
ao redor da casa,
voando
e batendo asa
na
direção do arvoredo ...
Tempinho
bom dos segredos,
de
quem se assustava à toa ...
e
um mundão de coisas boas
para
guardar na memória.
Foi-se
o tempo, fica a história!
Os
sonhos lindos da infância,
As
noites mal-assombradas,
os
gritos da gurizada
se
perdendo na distância.
Mistérios
da noite escura ...
Magia,
vida, emoção ...
E
um velho que, de repente,
Vira
guri novamente,
Brincando
com o coração!