MICRO ESTÂNCIA GLOBAL

Vinícius Nardi

 

Nosso tempo é de discussão de ritmos

De temas e de lemas

Construção de dilemas

Na cega obediência a paradigmas

Traçam-se vidas teatinas

No marchar das calçadas

Templo de formigas aprisionadas

Em cátedras retidas.

 

Nosso tempo

É substância que se esvai

Que não tolera devaneios

Utilizando de todos os meios

Na repressão da poesia

E trabalha com maestria

Na concepção de abortos

Fetos nascidos em desencontros

Sustentando a vida da nostalgia.

 

Ficaram anos de Maquiavel

Retratados em nosso cerne.

 

No lombo dos transistores

Atropelam-se fronteiras

E a ácida crítica se constrói.

Tempo de inertes e vazios

Rotulados “vácuos em cio”

Meliantes à Tolstoi.

 

Mas o tempo é de mutação

E por isso tanta incompreensão.

 

A poesia há,

Sim senhores.

Embora detida no cárcere

Construído ao longo do tempo

Na vida plana do lamento

Dos que nos dizem repetidores.

 

Nosso tempo embora maculado

É propriedade histórica de avanços

Não tão inertes e mansos

Que justifiquem os rejeitados

Vivemos animais enjaulados

Aplaudindo nossas cercas

Embora seja clichê e obsoleta

A retórica dos agraciados.

 

Ouvem-se discursos homogêneos

Sustentando a nobre crítica

São paritárias encíclicas

Jogando na sarjeta os de nosso gênero

 

E nas palavras repetidas

Valora-se a dor da perda

“Foram-se as domas e potreadas

Ficou a juventude transviada”.

Ainda não descobriram os nobres senhores

(talvez por excesso de seus valores)

Que trocaram-se cuias por teclados

Mas que seguimos irmanados

Pintando quadros com nossas cores.

 

Defendo nosso tempo

Dito de dor e sofrimento

Mas que não é de todo mal

Eis a hora do ponto final

Nas alcunhas de “perdas e esvaziamento”

Que ocorreram a qualquer momento

Não sendo uma especiaria

Vivida apenas em nossos dias

De micro-estância global.