Quando Acende a Luz da Alma

Maria Luiza César

 

Quando a eletricidade
Acaba no interior
Acendem luzes da alma
E é em meio a essa calma
Que vejo o que tem valor

Não tem a televisão
Que traz notícia ruim
Ouço só o gado berrando
E um grilo cantarolando
Numa paz que não tem fim

Lá se vai a internet
Todos largam o celular
Enquanto a chaleira chia
Vou sentar com a família
Pra algum causo contar

Quando cai a noite escura
O céu tem bem mais estrelas
Sem luzes para ofuscar
Eu me paro a admirar
Elas brilhando faceiras

 

Até a lua pampeana
Desponta bem mais bonita
Iluminando esses campos
Me seduz com seu encanto
Que até suspiro solita

Ao retornar para dentro
Do meu rancho coração
Sinto que volto ao passado
Quando acendo ao meu lado
A luz de um lampião

E assim eu vou pensando
Na vida de meus avós
Sem a tecnologia
Tendo bem mais sintonia
Do que qualquer um de nós

Como devia ser bom
Sentar só pra conversar
Ou ouvir algum conselho
Sem ter nenhum aparelho
Para a prosa dispersar

 

Absorta em pensamentos
Eu reflito nessa hora
O sentimento me invade
E eu pareço ter saudade
Desses tempos de outrora

Então penso um pouco mais
Outra vez eu caio em si
Só por curiosidade:
É possível ter saudade
De um tempo que não vivi?

Ou será que eu vivi?