O Devaneio da Guria
Maria Luiza César
Sentada frente ao rancho
Sorvendo o meu chimarrão
Ao analisar a vida
Eu abri meu coração
Imaginando se um dia
Tu morasses no rincão
Cheguei a ver este rancho
Encher-se de alegria
Tu chegando do serviço
No final de cada dia
Abraçando tua guitarra
Dedilhando melodias
Nós seríamos felizes
Vivendo no interior
Nunca faltaria afeto
Sempre haveria amor
E um jardim florescido
Pra pousar o beija-flor
Com a vinda do outono
Chegariam as crianças
Correndo pelo potreiro
Fazendo a maior festança
Gritando, cantarolando
Alarmando a vizinhança
Num domingo com parentes
Juntos numa manhã
Prosearia com a família
Lidando com as panelas
Eu fazia a maionese
Tu assavas a costela
Ao cair mais uma noite
Olhando o céu estrelado
Sentaria-me contigo
Com os filhos no costado
Pra ficar contando causo
Com o amargo bem cevado
Mas roncou meu chimarrão
E eu voltei ao presente
Percebi que nada passa
De uma ilusão da mente
Pois grande é a distância
Que existe entre a gente
Foi assim que meu amor
Deu ôh de casa em tapera
Aguardando teus carinhos
Pra próxima primavera
Vou remoendo a tristeza
Na angústia desta espera