REFLEXÕES DE UM DESCENDENTE
Lucas A. Rohde
Não sou somente a cor que
tenho,
sou mais que um simples homem do hoje.
Não tenho somente idade,
minh’alma tem
história
que os anos contam aos poucos...
Plantei justiça no passado,
pra colher e cultivar igualdades no presente...
Não fui um só homem,
fui milhares,
fui milhões...
Nasci dentro da Senzala
em meio aos meus irmãos.
Nasci dentro dos navios
que me traziam do meu continente.
Nasci ao deus dará
pra que minha mãe
não tivesse que ver
o filho dela sofrer
como sofreu nossa gente!
Ante ao “meu senhor”
trabalhei,
ante ao “meu senhor” sangrei,
ante ao “meu senhor” morri...
Mas não sou somente a poeira
dos anos.
Sou o descendente do menino
que,
liberto de correntes de aço,
pode correr no pampa
e ontem mesmo foi matear
junto à igualdade.
Não,
não disse que seja culpa dos senhores!
Porém o tempo trás em todo o
fim de tarde,
em meio ao vento pampeano,
um ancestral que nós todos carregamos
sobre o passado que se foi.
Sim!
As páginas viraram e as
pessoas mudaram,
mas as chagas ficaram
e, em meio ao meu canto,
de simples descendente,
digo que sobrou um valor.
Sou filho de quem morreu,
sou filho de quem sofreu,
sou filho de negro, minha gente!