HOMENS E PÁTRIAS
José Henrique Azambuja
Ronda noturna ao tranco largo
coxilha
alta e um mouro negro
trocando
orelhas, carrega destro,
no lombo
firme o andarilho.
Poncho às estrelas.
Um assovio quebra o silêncio
floreado
ao léu.
Prateia a lua!
E o vulto negro contra o horizonte
na
imensidão de campo e céu.
Abre as narinas sorvendo o aroma
da noite
prenha de planta e flor.
Cruzando o ar, pontos de luz
vagam nos
campos
pintando
cor.
Chiar de cascos, tinir de esporas,
mascar de
freio, som de barbela.
E o mouro negro e seu campeiro
cortam na
noite o vento
leve
soprando nela.
A lua grande espia astuta
o
andarilho no seu andar
cruzando
pastos, sangas e grotas
na
imensidão da pampa nua
sombra e
luar.
Enfim... um marco!
Sinal político
da
divisão de dois países.
No mesmo tranco
o mouro
negro segue a estrada.
A mesma estrada, a mesma terra,
os mesmos
pastos e o mesmo vento,
tropeando
aromas todos iguais.
Ficou para trás a vã divisa
de duas
pátrias que ele cruzou.
Para o campeiro fazendo rumos
de nada
serve aquele marco
que lá
ficou.
E nem o
mouro mudou o andar
o ar é o
mesmo, os mesmos campos,
o verde é
o mesmo, tudo é igual.
O gado pampa, igualmente lá
rumina o
trevo no seu descanso
rondando
o cocho do mesmo sal.
Homens, os mesmos, buenos
e malos,
Fogões acesos, os ranchos toscos,
luz de
candeeiro marcando pontos na noite larga.
Mesmos destinos a perseguí-los
no tempo a fora.
Também as mesmas penas e
mágoas,
duras e amargas.
A língua é outra, são outras falas,
porém,
nem tanto, pois se compreendem
tal qual
irmãos da mesma terra
unidos
sempre na mesma luta de homens livres,
seja na
paz, seja na guerra.
Muda a bandeira, trocam as leis
seguem os
sonhos e sentimentos.
E aquele andante monge dos rumos
nem se
apercebe por onde andou.
O mouro negro trocando orelhas
ao tranco
largo, mascando o freio
a bater
cascos pelo caminho
que não
mudou.
Homens e Pátrias trocando sonhos,
e uma
esperança de paz nos campos
de duas
querências e um só pago.