QUANDO UM TAURA SOLTA O LAÇO
Gilberto Trindade dos Anjos
Quando um taura solta o laço
É um trovão no descampado
e uma carga farroupilha
É o pampa de braço erguido
derrubando o alambrado
É o estouro de uma tropa
E o relampear de uma adaga
no calor de um entrevero
São grilos na noite escura
E uma revoada de garças
num entardecer campeiro
Quando um taura solta o laço
É o canto do passaredo
e são relinchos de cavalos
É a goela rouca das rãs
no bamburral do varzedo
É o estalar de um braseiro
E uma cambona chiando
fervendo junto a um tição
São asas de um joão-de-barro
E o piar de uma coruja
na cumeeira do galpão
Quando um taura solta o laço
São sonhos que ganham asas
e o rangir de uma cancela
É um quero-quero gritando
no chapadão junto as casas
É um grito de flor e truco
E um galo macho cantando
anunciando a madrugada
São patas de parelheiros
E o murmúrio de uma sanga
no fundo de uma invernada
Quando um taura solta o laço
É um sapucay
bem soltado
e os gemidos de uma china
E são grunhidos de gato
num namoro de telhado
É o canto de uma cigarra
E os pulos do coração
depois de uma longa ausência
É um touro xucro berrando
E a algazarra dos tajãs
nos banhados da querência
Quando um taura solta o laço
É um borbulhar de pucheiro
e um choramingar de gaita
São acordes de um violão
num bochincho galponeiro
São as esporas cantando
E são os furiosos berros
dos guerreiros guaranis
São guinchos de um bandoneon
E o rugido das enchentes
nas barrancas do Ibicuí
Quando um taura solta o laço
É o latir da cachorrada
e são guizos de cascavel
É um carancho gritando
numa terra recém lavrada
São estalos de arreador
E um tropel a campo fora
com pisotear de flechilhas
É o estrondo das tormentas
E o assoviar do minuano
lá no alto das coxilhas
Quando um taura solta o laço
É a xucra história do pampa
que voa junto com a argola
Indo aninhar-se pachola
num arisco par de guampas