Onde eu Encontro Meus Versos

Gilberto Trindade dos Anjos

 

Versos são letras com asas

que voam junto com o vento,

e chegam servindo de alento

pra solidão junto as casas…

Versos são pontas de adagas

no entrevero das peleias,

e o sangue a pulsar nas veias

quando o braço se destrava.

 

Versos são línguas afiadas

nos desafios de uma trova,

que mesmo na lua nova

deixa a alma iluminada…

Versos são vozes de gaita

em um bochincho campeiro,

é o tremular de um candeeiro

num rancho feito de taipa.

 

Versos são gritos de guerra

no fulgor de uma batalha,

quando o sangue rubro espalha

manchando o seio da terra…

Versos são berros de touro

no fundo de uma invernada,

sobre a barranca da aguada

que ele fez de bebedouro.

 

Versos são lanças erguidas

numa carga farroupilha,

são patas de uma tropilha

voltando a querência amiga…

Versos são os ovelheiros

em volta de uma mangueira

e em cancha reta campeira

são cascos de um parelheiro.

 

Versos são as cantilenas

de umas esporas campeiras,

são as estrelas matreiras

filhas do pampa ventena

Versos são águas de sanga

refletindo a lua cheia

e o lerdo boi que passeia

se achegando junto a canga.

 

Versos são velhas taperas

com cacimba no costado,

são pingos bem alisados

tratados só com quirera…

Versos são quartos de lua

na quietude da coxilha

e o cheiro da massanilha

sagrado jujo charrua.

 

Versos são choques de guampa

nos entreveros de tropa,

é lida em costa de grota

pelas canhadas do pampa…

Versos são causos campeiros

contados pelos galpões,

são os chiados dos fogões

aferventando pucheiros.

 

Versos são olhos de china

com juras de amor eterno,

e em dias feios de inverno

o galpão que nos confina…

Versos são sonhos contidos

que do peito se desgarram,

são tramelas que destravam

o manancial dos sentidos.

 

Versos são brasas acesas

num tosco fogo de chão,

e o sabor do chimarrão

que traz alento às tristezas…

Versos são tiros de laços

na várzea de uma invernada,

são beijos da prenda amada

no calor de um longo abraço!