AS ESTRELAS QUE EU DEIXEI NO PAMPA
Gilberto Trindade dos Anjos
Parti um dia como tantos
partem
com a mala cheia de ilusões faceiras,
alcei a perna e cruzei a porteira
do simples ninho em que fui criado...
Sai sozinho ao sabor do
vento,
qual um passarinho quando ganha asas,
deixei pra trás, com o peito em brasas,
o aconchego de um rancho barreado.
Levei comigo sonhos
desenhados
na lousa virgem de minha juventude,
e um coração pulsando inquietudes
batendo forte bem na flor da idade...
Com a pretensão de desbravar
o mundo
e a curiosidade de dobrar esquinas,
nem vi o meu pago ficar na neblina
do sal dos olhos da minha saudade.
Carreguei junto pra o novo
destino
os meus “recuerdos” felizes da
infância,
e pelo caminho fui toreando
as ânsias
de um coração impaciente na espera...
Firmei o olhar no estranho
horizonte
buscando o brilho de um lindo luzeiro,
e cravei esporas num sonho povoeiro
pra correr atrás de falsas quimeras.
Aos simbronaços
de uma vida chucra
fui reculutando alegrias e
penas,
e no lombo arisco de sonhos ventenas
segui toreando a minha alma
aflita...
E me embrenhei em matos de
concreto
ao tranco teso de um andar sozinho,
pra desbravar os meus próprios caminhos
seguindo os rumos que o coração dita.
E quando a vida me cobrava o
prumo,
eu voltava ao pago pra acertar o rumo
junto as estrelas que eu deixei no pampa.
As coisas boas que aprendi
com os pais
me deram armas pra abrir novas trilhas
e passar ao largo das más armadilhas
que o vil luzeiro arma pra um vivente...
Cruzando estradas me fiz um teatino
só tendo a saudade pra pedir guarida,
e tracei as metas de uma nova vida
com as parcas certezas que tinha na mente.
No cerne rijo da minha
juventude
firmei garrão para seguir em
frente,
na simples busca de um viver contente
para fazer meu coração feliz...
Nos frios poleiros de
concreto e pedra
fui fazer pouso e erguer os meus ninhos,
e encantado por falsos carinhos
espalhei frutos e não finquei raiz.
E quando a tristeza fazia eu chorar,
eu recarregava o brilho do
olhar
junto as estrelas eu que deixei no pampa.
E hoje revendo tudo o que já
andei
descubro que é hora de repensar a vida,
pois é preciso curar as feridas
e repovoar o meu peito tapera...
Quero lavar a alma numa sanga
e me servir de um mate bem cevado,
pois o meu pingo já anda cansado
de correr atrás de falsas quimeras.
Um dia desses vou alçar a
perna
e botar na estampa o meu melhor sorriso,
juro que faço o que for preciso
para chegar feliz no arremate...
Num tranco largo de cruzar
fronteiras
vou seguir o rastro de um olhar amigo,
no chão do pago vou encontrar comigo
e regar minhas raízes numa roda de mate!
Quero alumbrar este negror do
peito
na luz dos olhos de minha simples gente,
e pegando a estrada pra seguir em frente
deixar pra trás o que já não me serve...
Vou sentar a sombra de um
velho angico
e esquecer as penas numa prosa calma,
na paz de um galpão vou aquietar a alma
e acomodar meu coração aflito!
Pois a vida está me cobrando
o prumo
e no chão do pago vou acertar o rumo,
junto as estrelas que eu deixei no pampa!!!