Que se de o sacrifício.
O sol cingia lampejos
Com brilhos de fios de adagas
Sobre aqueles dois andantes,
Chapéus grandes, passos lentos
Com um cavalo a cabresto.
De murmúrio, só os passos
No tisnado do capim
E um jejum de alegria
Nos olhos cor de braseiro
Sinuelando o cortejo
De fantasmas e pesares
Pelo arreglo ajustado
De dar descanso ao sendeiro
Pisavam firme na linha
Do rastro que o gado fez.
Também não buscavam atalhos
Que encurtassem a distância
Até o local da sentença.
Pois o peão, vida bruta
Na solidão da campanha
Enraíza sentimentos
Passional ao seu cavalo
De amigo das confidências.
Um deles, um índio forte
Se via que temperado
Pelos reveses da vida.
O outro, puxando o cavalo,
Tinha um porte franzino
Mas também determinado
P`ra o gesto que se previa.
O cavalo no cabresto
Já fora um pingo de lei
Já correra campo a fora
Nas lidas que Deus lhe dera
Com todo viço e entono.
E agora nas mingueras
Da doença e da velhice
Ficou cego o pobre triste
Pra desconsolo do dono.
Na beirada do capão,
Longe dos olhos do mundo,
O mais moço dos parceiros
Pediu a faca ao amigo
Para a sangria fatal.
Olhava p´ra o fio da faca
Tão perto do seu destino
Com um pesar desmedido,
O coração apertado,
No tremor do desatino.
Depois do sinal da cruz,
Feito num gesto ligeiro,
A navalha misturou-se
Com pelo, sangue e vertigem
E abriu-se um corredor fundo,
De galopes de atropelos,
De mil potros em disparada,
Como se o mormaço da tarde
Saísse das ventas do bicho.
Com quatro olhos em brasa
Se foram os dois parceiros.
Passos lentos, almas rasas,
E um torpor no coração.
E ainda escutavam o pingo velho
Resfolegando, escarvando,
Com o dorso levantado,
Pedindo espora p´ra o dono
P´ra levantar-se do chão.