DO MEU GALPÃO
Alberto Sales
De guri fui
galponeiro
Manuseava
no galpão
Loro, rédea
e travessão,
Lonqueava o dia inteiro
Na função
deste entreveiro,
-De
mangueira e de lombos-
Asas
ligeiras de pombos
E por
gostar de estrada,
Horizonte
na mirada
Sem nunca
temer os tombos.
Olhar de
águia matreira
E grito de
quero-quero,
A desgraça não espero
Nem repouso
em tronqueira,
Espero o
chiar da chaleira
E cevo um
chimarrão,
Aperto bem
com a mão
Puxo um
cepo na entrada,
Onde
descansa a indiada
Da bruta
lida de peão.
Anos...que
o tempo ergueu,
Rumino as
minhas
Em rodas,
prosas amenas,
Dor no peito
me abateu,
Saudade
permaneceu
Com recuerdos ancestrais,
Faço parte
dos demais
Que há
muitos esqueceram,
Moirões não
apodreceram,
Na
querência dos meus pais.
Numa folga
domingueira
Pra negaciar as morenas,
Bombeei as
longas melenas
Com olhos
de fazendeira,
Jeito de
prenda trigueira
Com
imensidão no olhar,
Vi sonhos
seus no pensar,
Todo homem entonado
Se encontra
assim lado a lado
No jeito meigo...
do par.
Uma luz que
se acendeu
Um cepo a
mais no galpão,
Água no fogo-de-chão,
Regalos que
a vida deu
A origem
permaneceu,
De campo,
suor e lida
Com a
prenda mais querida
Reparti o
trigo do pão,
Completou
meu coração
Esta flor,
que foi colhida.
A ela
escrevi poesia,
Da noite do
rio, do céu.
Suave como
fosse um véu,
Nas tardes
calmas do dia
Meus
pensamentos um guia
Com saudade
do afago,
Lembranças
que hoje trago
Da minha
morena flor,
Trouxe carinho
e amor
Pro peito
do índio vago.
Deus no céu
dependurou
Uma
estrela, a mais divina,
A maior que
ilumina
O rancho de
um pelo duro,
Que num
prego do futuro,
No galpão
dependurado
Um retrato
do passado,
Tua imagem
na moldura
Mulher de
grande bravura,
Ao
encontrar-se ao meu lado.
Na cuia,
erva lavada,
Aguardo um
raio de luz,
- Daqueles,
que me conduz
Pro lado da
minha amada,
Vou pra
última morada;
Abra as
portas meu “amigo”
Pra este
mouro antigo;
-Peço ao
“Senhor do céu”
Que pra ti, tiro o chapéu,
Pra matear.... ai
contigo.