HEITOR ROÁRVORE SECA

Heitor Rossato

 

 

Aquela árvore seca

desenhava um desespero

de mãos erguidas pro céu.

 

Sem flor, sem folha, sem fruto,

encravados na amplidão,

aqueles galhos de luto

eram gritos de oração.

 

Antes tempo...

num ponche verde de folhas,

num descampado solita,

foi a casa da esperança,

árvore moça e bonita,

teve músicas divinas com

perfumes de Vergel,

teve o baile das abelhas, teve,

nas flores vermelhas,

bocas com beijos de mel.

 

Mas um dia...

Houve briga lá no céu.

Houve facadas de fogo

com trovões no descampado…

E aquele viço tão lindo

foi murchando, se extinguindo,

e as folhas foram caindo

como lágrimas de árvore

chorando a dor de morrer.

 

Árvore murcha e ferida

no descampado tristonho

fez-se cadáver de sonho

sendo tapera da vida.

E lá ficaram chorando,

naquela árvore seca,

silhuetas de desespero

de mãos erguidas para o céu.

 

Quanta esperança morrendo

nas folhas secas do chão

e os galhos hirtos se erguendo

imploravam na aflição,

senão a glória da vida,

a esmola triste e dorida

de ao menos ter coração.

Ao menos ter coração

para escutar a saudade da

solidão infinita e não sentir-se

proscrita tombando morta no chão.

Para vencer a ilusão desse desejo

sem luz, de fazer dum galho a cruz,

do tronco o próprio caixão.

 

Por isso os galhos mirrados

ao céu estão levantados

implorando um coração.

Em resposta, desceu a benção do céu,

árvore seca deu flor, dois passarinhos

cantaram nos galhos, rindo, pousaram