APENAS
SAUDADES
Ieda Brock
Ah, que saudades que dá na gente
Quando se acorda cedito e não se escuta
o
Galo cantar, o cusco a latir e as vacas
a berrar.
Saudades de ver o terneirinho pulando
faceiro
Em roda de sua mãe.
Saudades do fogão de lenha que de longe
Se vê a fumaça se perder no ar.
Daquele café gostoso do bule preto
Da broa de milho com manteiga e chimia
E as vezes até torresmo pra quem queria.
Ah, saudades de andar na geada sentindo
os
Estalinhos do gelo
De parecer que está fumando
De ficar com lábios e bochechas
vermelhos
E voltar pra casa correndo
Sentar em um banquito
Na frente do fogão até se esquentar.
Saudades do chimarrão antes do meio dia
Dos bolinhos de sonhos com canela nos
dias de chuva.
Saudades do entardecer
Dos animais se achegando pro galpão
Dos banhos rápidos por causa do frio.
Ah, e que saudades do pijama de pelúcia
cheio de bichinhos
Da sopa com bastante tempero levantando
fumaça.
Saudades da oração do Santo Anjo
Saudades de uma noite tranqüila
Ouvindo sons de grilo e coruja cantar.
Saudades,
Apenas saudades.