AOS OLHOS DE QUEM MATEIA SOLITO
Matias Moura e colaboração Luciano Salerno
Antiga é a figura a silenciar
projetada na estância,
Onde por conta, só um fogo e o mate
lhe fazem costado.
O semblante que traz é gasto pelas
tropeadas do tempo,
Com olhos calmos, bombeia pensamentos
e passado.
- Quem será este
gaúcho que mateia só?
Que acomoda o mate
bem firme nas mãos...
Assim como quem
“sofrena” nas rédeas um redomão.
As retinas buscam
das casas até o “caminito” lonjuras
E atrás das retinas
a espera por ter na alma candura.
- O que será
que seus olhos buscam na estrada?
Com as retinas
serenadas e o remanso dos buenos...
De certo busca
algum campeiro cansado do ofício tropeador.
Desses que gastou
peçunhas empurrando bois estrada afora
E nem suas eram
essas tropas estendidas pelo corredor!
Quem sabe busque
algo que “hace tiempo” foi seu!
Talvez lembre a
estância matizada num final de tarde,
Em que os campeiros
voltavam com seus baguais
Lavados de suor por
reculutas, tropeadas e apartes.
Talvez seus olhos
busquem na estrada o “perro cimarrom”,
Um trovão pra
repontar os que se desgarravam da tropa.
Um fiel
companheiro, alma antiga de gaúcho guerreiro
Nas lidas e
gauchadas de mangueiras ou fundões das grotas.
De certo vislumbre
as “Toras” no pelado de rodeio.
O palanque firme,
onde escorava os tirões dos “malos”
Que tinham seus
destinos domados a ferro e mango...
Formando um combate
de campo entre homem e cavalo.
- Não será este
gaúcho um cantor e guitarreiro?
Que no lume de lua
inteira buscava inspiração,
os timbres do silêncio para compor melodias
lembrando o perfume de um semblante moreno
que nas toadas dos ventos embalava os seus dias.
O que retratam de
vida e poesia,
De tempo e
distância...
Os olhos dos
senhores desses retratos?
Talvez, retratem
nostalgias de um fundo de campo,
cambiando seus dias a uma esquecida tapera,
Pintada pela
natureza num retrato campechano...
Deixando na antiga
estância somente quimeras!
Como os fletes que
sorviam o cristal das cacimbas,
Da tropa encordoada
e o cruzeiro em noites escuras...
Quem sabe esta
altiva e romanesca figura de outrora
Tenha coração
livre, alma pura e olhos de ver lonjuras.
Por certo
"siempre" a mirar o "caminito"
Entre cada gole
desse amargo ritual,
Serei eu a contar
luas e setembros gastos
num amanhã longe do manancial!!
Sim! Será a minha figura silenciada
na “coxilha de pedra”,
Onde, por conta somente livros e o
mate me farão costado.
O semblante levarei forjado pelas tropeadas do tempo,
E Com olhos calmos ruminando passado
e infinito...
No espelho do amargo, sou eu mesmo quem mateia solito.