UM SONHO DE MENINA
Vaine Darde
A chuva se derrama desde o
cerro
e a noite trás acordes de cincerros
nas lágrimas da quincha sobre o
balde...
Ah, que triste a cantiga da goteira
chorando tua ausência a noite inteira,
vivendo o que me mata de saudade...
A insônia faz vigília no meu
catre
a rondar a tristeza neste aparte
com o vento a gemer nas casuarinas.
O que ficou de ti, não me
consola,
tu deixaste a lembrança por esmola
e levaste o meu sonho de menina...
O que fazer sem ti nestes
confins?
Foi contigo, também, parte de
mim
e o pouco que ficou só me apunhala...
Nem mesmo tenho a graça das
esperas,
no pampa esplendorando
primavera,
no que ficou de ti naquele pala...
Pois tudo que me vive te
acompanha
e o que morre por ti ainda sonha
florindo na esperança derradeira:
Um dia, num milagre, por
amor,
também poder sorrir e gerar flor
assim como a vertigem da roseira...
O que te encanta tanto na
cidade,
será que é o prazer das novidades
a causa pela qual tu te fascinas?
Eu sei que o teu encanto se
resume
no luzeiro dos falsos vaga-lumes,
no brilho de néon dessas vitrinas.
Em busca de um presente sem
futuro
esqueces um amor imenso e puro
e deixas violão, cavalo e lida.
Tu vais atrás dos outros
bem-me-queres,
brincar de ser feliz com as mulheres
e esqueces que te dei a minha vida...
Às vezes, o adeus é o pior
desastre...
Eu sofro a tua ausência em
cada mate,
eu vivo de morrer longe de ti.
Se um dia retornares dos teus
sonhos,
não vai mudar, em
mim, o olhar tristonho:
metade que foi tua eu já morri.
A dor que mais me dói neste
abandono
é ver que um violão ficou sem dono,
é ver mais um cavalo sem peão...
Não sabes, mas, pra mim, a
tua falta
não dói tanto na morte que me mata.
O que dói é viver na solidão.
Se ao menos
me dissesses que te ias
Assim, eu, dessa forma, saberia
que fora porque em nós chegara o fim...
A mágoa que me mata e que se
agrava
é ires sem me dar uma palavra
deixando o teu amor dentro de mim...
Fiz tudo...Tudo
fiz por tua causa,
bordei planos, sonhei com aquela casa
que, um dia, tu farias para nós...
Mas, agora, o que faço do meu
sonho,
continuo a guarda-lo ou o deponho
na verdade do pranto mais atroz?
Talvez tenhas alguém que
tanto adores,
que sorria por ti e também chore
como eu tanto chorei quanto sofri.
Mas mesmo que esse amor que
te cativa
faça tudo por ti e por ti viva:
Duvido que, também, morra por
ti!