DE SOMBRA E LUZ
Vaine Darde
Não se faz um payador
Com meia
dúzias de versos
E pensamentos dispersos
Rimando flor com amor.
Mas seja lá, como for,
Seja estrela ou vagalume
Assa luz, não se assume
Em pulperia
ou mestrado:
Já se nasce iluminado
Pelo brilho desse lume.
Tenho lido “Obras primas”
Que se intitulam poema
Onde a métrica é o tema
Suicidam-se na rima,
Excesso de alto-estima,
-delírio de falso vate-
que vai sorvendo no mate
o gosto da essência alheia
por não possuir nas veias
o dom sagrado da arte.
O que nasce iluminado
Já concebe a estrofe pronta,
Não busca palavra tonta
No verso desatinado...
E, como diz o ditado:
-Não acredito nas bruxas!
Mas a idéia anda murcha
Pois pela sede de glória
Estão tisnando a memória
Da antologia gaúcha.
Eu tenho lido centúrias
Descrições, apologias
Sem um dedo de poesia
Nem sequer uma figura,
Criador sem criatura,
Modéstia que se desdobra
Em nome maior que a obra,
Ufanismo e pantomina.
Onde a humanidade termina
Sempre há vaidade de sobra.
Pra contar o campo e a lida
Há constelações completas,
O Rio Grande tem poetas
Que, até mesmo, Deus duvida:
Camões de campeira estampa
Trolstóis nascidos no pampa:
Jaymes, Antônios, Vinícius;
Rodrigres, Simões e Jaques;
Duartes, Saraivas, Vasques;
Retamozzos e Apparícios...
No mapa, por toda parte
-Desde o mundo mais antigo-
há o joio e há o trigo
pelas searas da arte.
Só tempo faz o aparte
E a eternidade descobre
A quem a glória recobre;
Quem é vilão ou herói,
Pois o tempo só corrói
O metal que não é nobre.
A antítese do verso
Também se mantém exposta
Pois é em forças opostas
Que se equilibra o universo.
Tudo tem o seu inverso
Por isto o astro flutua...
E, porque a força atua
Em tudo e a qualquer hora:
O cardeal canta pra aurora
E o lobo uiva pra lua.
Sem o fulgor das estrelas
Não brilharia o cometa,
Só dentro da noite preta
É que fulgura a centelha.
-A chispa sempre se espelha
no astro que a seduz-
Por isso é que se deduz
-Ao se tratar de poetas-
Que a sombra só se projeta
Se houver um raio de luz.
Na bateia do talento
Se garimpa a poesia,
Tem o verso que extasia
E o verso sem sentimento,
Pois no rio mais lamacento
Surge com as pedras rolantes
A gema mais deslumbrante,
Qual uma gota de orvalho...
É no meio do cascalho
Que reluz o diamante,
Mas pajador
é essência
Que de milênio em milênio
Retorna ao fado terreno
Para cantar a querência,
E, na sua onipotência,
Repor o que se desfez...
Payador há dois ou três
No contexto Universal
Mas outro Caetano Braun
Daqui mil anos...Talvez.