A DOMA

 Telmo de Lima Freitas

A lua foi testemunha,
Já quase clareando o dia,
O redomão Ventania
Não aceitou o baixeiro.
Bufou ao sentir o cheiro
Das garras do domador,
Num jeito provocador
Se parou “embodocado”
E quando foi apertado
Saiu semeando pavor.

 

Depois que as coisas chegaram
Aos seus devidos lugares,
Saltava grama pra os ares
No compasso da “soiteira”,
É lindo ouvir a zoeira
De um ginete que se agarra
E, pra completar a farra
Um “pi bi bi ú hu hu
E o rabo de tatu
Num floreio de chamarra.

 

Pois bem, agora sou eu
Que te convido, gateado,
Tu me tiraste apurado
Com o primeiro “corcovo”,
Com esta tunda te provo
Que leva por merecer,
Quero fazer tu perder
Esse teu jeitão de louco
Porque senão, daqui um pouco,
Tu periga me vencer.

 

Dava gosto ouvir a prosa
Do ginete conversando
E o ventena se apoucando,
Num repasso de chilena,
Se terminou o pavena,
Metido a bicho-papão,
Quando voltou pra o galpão
Não era o mesmo gateado,
Tranqueando devirilhado,
Quase de rédea no chão.

 

Cavalo, às vezes precisa
Levar algum corretivo
O instinto primitivo
Insiste em libertá-lo,
É por isso que o cavalo,
Desde o primeiro floreio
Precisa levar um costeio,
Fincar-lhe num pau-de-arrasto,
Depois, em baixo do basto
Ele conhece o arreio.

 

Gosto que o potro conheça
O assobio de macaco,
Por mais que seja velhaco,
Cheio de baldas e manhas,
Acostumado co’as ganhas,
Metido a corcoveador,
Às vezes, manoteador,
Sem perder uma parada,
Cada dia, uma encilhada,
Obedece ao domador.

 

Primeira sova, segunda,
Depois, cavalo de freio,
Que na quina de um rodeio,
Ganha medalha de ouro,
Flor de cavalo, de estouro,
Bom de rédea e fachudaço,
Sabe encostar pra um abraço,
Sabe fazer galanteio,
Quando chega num jardeio,
Ensina a atirar o laço.


As prendas gostam demais
De ver o seu pretendente,
Quando chega sorridente,
Numa manhã de domingo,
Montado naquele pingo,
Enfrenado com capricho,
Quando passa no bolicho
Ele redobra o entono
Porque sabe que o seu dono
Vai rever o seu cambicho.


Conhecimento na doma,
Coragem e habilidade,
Com toda a modernidade
Servirão de ensinamentos,
O velho laço nos tentos,
Poncho emalado e chapéu,
Cabresto forte e sovéu
Serão o seu passaporte
Pra aquele que tiver sorte
De apear na porta do céu