UM RODEIO PRA DOM JAIME
Sebastião
Teixeira Corrêa
O patrão Velho, afinal,
Juntando esteio a esteio.
Prepara o grande rodeio
Da virada do milênio,
Por isso, há mais de um
decênio.
Quem vem reunindo a peonada:
- Uma tropilha aporreada.
Tirada a ponta-de-dedo
Pelo capataz São Pedro.
Que abre a porteira da
entrada.
Há quem diga que essa festa
Vai durar a eternidade.
Dizem até que, na verdade.
Será o acontecimento
Que marcará o nascimento
Do primeiro CTG,
Num plano que não se vê
Lá, nas plagas do infinito,
Onde tudo é mais bonito,
- E todos sabem porque!
Haverá provas campeiras
De todas
modalidades,
E nos palcos... variedades
De danças, trovas, gaiteiros,
Chuleadores, guitarreiros,
Declamações e pajadas.
Cruzarão as madrugadas
Lá nos galpões do universo,
Mandando verso e mais verso.
No sem-fim das galponeadas.
Entre os tauras
já “pealados”,
Que estão na estância de
cima.
Desfiando rima por rima
Num balcão de pulperia,
Preparando uma poesia
Bem pra chegado do ano,
Estão o velho Aureliano,
O Dimas e o Aparício:
O marco Aurélio, por vicio,
Com o Glaucus,
no mano a mano.
Mas, pra que o grande rodeio
Garantisse, plenamente,
Precisava estar presente
O maior dos campeadores
O mestre dos pajadores
Em qualquer lugar que ande...
E o capataz disse: - Mande
Buscar, no rigor do inverno,
O esteio de puro cerno
- Pajador
do Rio Grande!
E assim partiu, de repente,
O cunfúcio
galponeiro,
Arreatando o cargueiro
Pra essa tropeada comprida
Para o além da própria vida.
Pra bem longe das Missoões:
Se aquecer noutros galpões.
Entre os braseiros de
estrelas.
“Com brilho de ponte-suelas”
e o calor de mil fogões.
O coração safenado
De há muito não dava trégua.
E o velho se foi, chô-égua!
Caborteiro e melenudo:
Ele sabia de tudo.
De peleias...
De bochinchos...
Cresceu quebrando corinchos
De muito ventena
alçado.
Criando galo prateado
Para o terror do cochinchos.
Seus versos foram puaços
Na alma dos insensatos.
Contou histórias - relatos,
Denunciando as injustiças:
Filosofou com premissas
De quem conhece o riscado.
No seu jeito abarbarado.
Foi algoz dos malfeitores:
Foi doutor entre os doutores,
Sem nunca ter se formado.
Da velha São Luiz Gonzaga.
Pra o mundo, essa criatura,
Foi exemplo de postura...
-Torena,
xucro e honesto
Cada poema, um manifesto
Em defesa da querência.
Na calmaria – a paciência
De um monge, em meditação:
À tirania – um vulcão
Em completa efervescência!
É pena que alguns “letrados”,
Com visões superficiais:
Que não conhecem os anais
Do Rio Grande e seu passado,
Tenham, as
vezes criticado
O autenticismo
das rimas
Alheiro a outras doutrinas
O Pajador
Missioneiro.
Esporeou o tempo inteiro,
Sem nunca largar das
crinas...
E agora, atende ao chamado
Do Patrão Velho do Céu,
Para fazer um tem-déum
Na imensidão do além-mundo.
Deixa um legado profundo
Às gerações que virão:
Que, por certo, encontrarão
Nos versos que foram seus,
Um culto de amor a Deus.
Ao pago e à tradição.
E quando, a noite, o minuano
Assobir nalguma quincha.
Varando, de leve, a frincha
De um rancho tosco, barreado,
E as cordas de um alambrado
Timbrarem pelo relento,
Fazendo acompanhamento
À guitarra, murmurando,
Será Dom Jayme, Pajando
Nos galpões do firmamento!!!