TRIBUTO A SAGA DA MULHER GAÚCHA

                                                     Sebastião Teixeira Correa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 


Nos relicários dos museus da história,

Onde se perfilam os medalhões,

De ouro, prata e bronze,

E onde se tem a dimensão exata,

Das honrarias forjadas no metal.

 

O troféu de lutas, de combates,

O  meritório premio,

Que enfeitou com galardões dourados,

O peito dos valentes,

Nos entreveiros e nos tempos quentes,

Das peleias, das guerras e embates.

 

Critérios? - Bravura, valentia,

Coragem de enfrentar de peito aberto,

A fúria do algoz,

Que, com ódio mortal se arremessa,

Contra o bravo gaúcho,

Que peleava por dignidade,

Pela gloria de ser guapo,

E pelo amor à terra.

 

Talvez tenha havido outros critérios,

Que premiaram  ideais nem tanto sérios,

Ou heróis que nunca pisaram o campo das batalhas,

Mas se os galões de ouro das medalhas,

Distinguiram falsos coronéis,

Por certo, o sangue derramado,

Pelos anônimos mártires tombados,

Lavou a honra manchada dos quartéis!

 

Porém, a história dos museus e livros,

Não conta a saga da mulher gaúcha.

A heroína, que longe dos fuzis,

A comandar as lides das estâncias,

Sufocando no trabalho as suas âncias,

A distância dos homens que peleavam,

Vendo brotar das sementes que plantavam,

A esperança de vida, no regresso,

E a contra peso dos fardos e das cargas,

Os filhos, erguidos às ilhargas,

Sustentaram nos ombros o progresso.

 

Quando os povoados se ergueram pelos vales,

E derramaram casas pelos cerros,

Ouviu-se o tinido da bigorna,

Multiplicar seu som de puro aço,

Domando o ferro ao peso das marretas,

E ao amoldá-lo, em chapas circulares,

Nos intervalos das rezas, aos altares,

Transformá-lo em rodas, prás carretas.

 

Hoje, esta mesma história continua viva,

Mas esquecida, pois não é contada.

Talvez por medo de ser ofuscada,

A imagem de herói que se criou.

 

A história viva esta naquelas mulheres,

Centenárias muralhas, que desafiam o tempo,

E continuam, legenda terrunha desta pampa,

Basta bomber-lhes a estampa,

Para notar o aço do seu cerno.

 

 

Olhem a serra, e verão aquelas,

Com traços de além-mares,

Que plantaram povoados e pomares,

E tem no corpo ainda as cicatrizes,

Da forja e da bigorna,

Resistindo à dor e ao sofrimento,

São hoje, vivos monumentos,

Que, erguidos em reverência,

Simbolizam o passado e o futuro da querência.

 

Olhem os campos, verão silhuetas grisalhas,

Peles ainda tostadas de muitos verões,

Semblantes lusos, olhos sebrunos,

Esgueirando-se nas casas velhas,

Irmãs Gêmeas dos ranchos e taperas,

Que alheias ao tempo desafiam as éras,

Nas lides perenes dos fogões.

 

Essas xiruas ainda são legendas,

Que, cultuadas nos saraus de prendas,

Perpetuam-se nas novas gerações.

 

Procurem nas estâncias,

E encontrarão aquelas,

que puderam ver o mundo.

Apenas das janelas das Casas Grandes,

Onde passaram a vida,

A pele escura, como que tingida,

Pela mão da noite.

Essas mulheres tristes e sofridas,

Com seus desejos e âncias reprimidas

curaram com lágrimas as feridas,

Dos filhos, judiados pelo açoite...

 

E existem também, pelas favelas,

Nos ranchos povoeiros,

Desconhecidas heroínas de todas as origens,

Morrendo aos poucos, pelo abandono.

Que  Rio Grande é esse?

Que homens somos nós?

Quando jogamos na dor e na miséria

o próprio sangue de nossas artérias,

Na imagem santa das avós!

 

A força, a tenência,

Esta coragem singular do campeiro,

De não temer, por grande, o entreveiro,

Nos vem dessas mulheres

que são de carne e osso,

Mas também de aço, temperado ao rigor.

 

E esse progresso que o Rio grande ostenta,

Vem da fibra daquelas que souberam,

Ser parceiras, amigas, companheiras,

escravas de ideais,

Em verdadeiras concessões de amor.

 

Ê por isso que hoje,

Precisamos honrar esse legado,

Resgatar os feitos do passado,

Reescrevendo as páginas da história,

Porque a nossa gloria.

Nasceu da estirpe guerreira

da mulher gaúcha!!!