Quando me Encontro com a Vida entre meus
Mates
sobrou na cuia de mate,
que sorvo ao pé do braseiro
nas horas de solidão
fecho meus olhos cansados
buscando reminiscências,
prá sentir toda querência
na palma da minha mão.
Nessas tantas madrugadas,
quando o sono bate as asas,
e o silêncio ronda as casas
sob a vigília da lua,
escuto vozes, distante
que o vento toca pôr diante
no timbrar dos aramados.
E aos corredores, galopes,
de tropilhas chimarronas,
ariscas potras gavionas,
dos meus sonhos mal domados.
O tempo é bagual sestroso
que a gente enfrena sem medo,
mas não encontra o segredo
do seu lado de montar.
Quando se é moço, se pensa
que o tempo é cavalo manso,
que se sujeita ao cabresto
e à espora, sem corcovear.
Mas ah! o tempo é maleva,
ninguém descansa em seu lombo,
e ensina, tombo por tombo,
que não se deixa domar.
Eu sonhei em ser ginete
dos aporeados, que a lida
me presenteou, pela vida,
por ventenas e araganos.
Mas compreendi que,
a lo largo,
os sonhos não são cavalos,
e jamais se acerta pealos
nas patas do desenganados.
O rancho sobrou na estrada
do corredor sem destino,
prá o sossego de um teatino
já cansado de andejar.
Que olhando só vê miragem,
porque o verde da paisagem
daqueles campos de outrora,
já não consegue enxergar.
E ao se dar conta do quanto
que o progresso fez estrago,
chora de amor, pelo pago,
pois não é feio chorar.
E eu sinto os olhos molhados
qual duas vertentes d’água,
misturando dor e mágoa
na mesma poça do mate.
Queria saber agora
o motivo e o mandante,
que essa maldade fizera
de transformar em tapera,
os campos nas sesmarias,
mandando embora campeiros,
prá ouvir nos ranchos povoeiros
o choro triste das crias.
Dá pena ver lá no povo,
velhos “moirões” das estâncias
cruzando noites em claro,
ao rigor das invernias.
Como pau-ferro, ao relento,
cuidando coisas alheias
aos poucos vão sucumbindo.
Enquanto em casa, dormindo,
o patrão fica mais rico.
Que “mala suerte” dos diachos,
já sobra pouca esperança,
porque, no más a
ganância
rouba os sonhos e os motivos.
O tempo não tem piedade,
e ao pobrerio, na cidade,
restam poucos lenitivos.
Por isso me perco, às vezes,
nas horas mortas da noite,
peleando contra esse açoite
da vida e me castigar.
Na seiva quente que sorvo,
reforço a fé e a energia,
na certeza de que um dia,
tudo haverá de mudar.
Quero sementes de vida
rebrotando nas coxilhas,
o cheiro das maçanilhas
no frescor das manhãs frias.
E que o verde do meu mate
se espalhe no campo afora,
prenunciando nova aurora
no raiar de novos dias.
E que a força de meus versos
ressoem como clarins,
ecoando nos confins
ao longo das sesmarias.
Até que o rumo não muda
e o temporal não espalha,
ninguém por certo, atrapalha
este ritual de galpão.
Onde um torena solito,
palmeia o seio moreno,
morno, redondo, pequeno,
na forma de um coração.
E quando a barra do dia,
chegar trazendo searas,
de amor, justiça e igualdade,
quero estar de sentinela
prá que ao abrir a cancela,
possa servir ao meu povo
o calor de um mate novo,
de paz e fraternidade.