Porque Razões Nascem os Versos

Sebastião Teixeira Corrêa

As rimas xucras dos  versos,
se retesam na garganta
Quando canta um pajador;
E o poema toma forma, quando
a expressão da poesia
Vibra em igual sintonia, 
com a alma do criador

 

Quando o lenho da guitarra
se achega ao peito do guasca,
E o timbrado das seis cordas
Parece brotar das veias, na
extremidade dos dedos;
Corre um tremor pela espinha
e se prolonga nos nervos,
Batendo o frio da coragem,
sobre a quentura dos medos

 

Assim nasce cada verso,
Quando a sensibilidade aflora
nos sentimentos;
E a cada gota de rima  que o
poeta da à luz,
Todo verso se traduz  na aura
desse momento

 

Por  isso, às vezes, a dor que os
versos tristes refletem;
Ou, sentimentos de amor, que
plasmam no coração
Quando as paixões nos boleiam.
Outras vezes é o protesto, 
marcado por injustiças,
Ou mesmo, histórias sangrentas q
uando dois bravos peleiam

 

Eu já cantei o amor,
Quando, na aurora dos anos,
senti o gosto dos lábios
E o calor terno do corpo da
prenda linda e trigueira;
Meus versos tinham o frescor 
da brisa calma da tarde,
E o perfume mais suave das
flores da pitangueira

 

E já cantei  toda a dor de quem
sofre pela ausência,
Quando a china bate as asas,
deixando o rancho vazio;
A solidão toma conta, o inverno
desce e se acampa,
E o coração sente frio

 

Cantei a saga campeira
Daqueles que desfraldaram a
bandeira das batalhas,
Pra honrar o solo gaúcho, com
fibra, garra e entono;
Que do lombo dos cavalos lançaram
gritos de guerra
Pra mostrar que a nossa terra
era pátria e tinha dono!

 

Cantei o êxodo do campo ao ver
vazios na invernada,
E a porteira escancarada,
por onde as tropas de gente
Foram passando, silentes,
prá buscar novas searas,
Chorando triste aos horrores
Ao longo dos corredores,
onde a dor se faz presente

 

Cantei a amarga saudade do
campeiro, na cidade,
Cevando as ervas caúnas no
degredo das favelas,
Montando potros de sonhos,
lançando armadas já tortas,

 

Em chifres de rezes mortas, 
pelos bretes das ruelas
 
Cantei o triste gemido do campo
virgem, rasgado
Pela fúria de um arado puxado
pelo trator,
Dos ervais nobres, nativos,
que se tornaram cativos,
Morrendo pelas clareiras,
Porque nas mãos tarefeiras
só há golpes de desamor.

 

Cantei a paz que existia nos
verões e primaveras,
Quando o viço  nas taperas
surgia só com o sereno,
A ternura das abelhas buscando
o néctar puro,
Pra fazer o mel escuro das
flores do sarraceno

 

E ao pé do fogo-de-chão
pelas noites dos Bivaques,
Entoei, junto aos que cantam,
meus poemas de esperança
De que um dia a igualdade
e a justiça que queremos,
Encontrá-las ainda iremos
num sorriso de criança
Em Quadras de Sesmarias,
cantei o verde dos campos
Que sobraram nos porongos
quando se seva algum mate,

 

E as lanças ensarilhadas à
espera de outros guapos
Com sentimentos Farrapos,
pra impeçar novo combate

 

Campeei rimas de diamante,
Pra desafiar a dureza,
e escrever sobre a aspereza
Do aço da Pedra Moura,
meus versos de amor e paz;
E hei de compor mil poemas,
pra cantar todas minhas penas,
Juntando aos versos dos outos,
Pois versos são como potros,
que não se deixam domar

 

Se algum dia, um dos meus versos
for encontrá-lo, meu parceiro,
Te peço que, por primeiro,
lhe mostre hospitalidade,
Pois cada verso é um pedaço
desta emoção que me inspira,
E, de diamante ou safira,
cada letra e cada verso
Tem dimensões de universo,
pra rimar com liberdade

 

Então, parceiro, estas rimas,
retesadas na garganta,
Hão de ecoar, quando cantas,
nos sem-fins dos cafundós,
Pra que o xucrismo dos versos
despertem nas clarinadas
Escramuças de potradas,
brotando pátrias em nós!!!