NOITES DE AUSÊNCIA

Sebastião T. Correa 

 

Noites de inverno, quando a geada fria,

E alvo véu a recobrir a pampa,

Enquanto, ao gancho, uma chaleira chia,

Golpeio as mágoas, no cantil de guampa.

 

O cusco dorme, calmo, enrodilhado,

Por sobre as cinzas do barrote quente

E o baio ruano, na cocheira, ao lado,

Parece o dono, com carinho ausente.

 

E ao ver o baio, a escarcear inquieto,

Tal como eu mesmo, carente de afeto,

Então me ponho a rebuscar motivo.

 

Porque razão eu me criei gaudério

Por sorte ou sina, que estranho mistério,

O andar sem rumos, que até hoje eu vivo.