NA INCERTEZA DA ESPERA

Sebastião T. Correa

 

            I

Chininha levantou cedo

Abriu com calma a janela,

Tinha um semblante de medo

No fundo dos olhos dela.

 

Olhou pras bandas da estrada,

Com ansiedade no olhar,

E antes a certeza do nada

Chininha pôs-se a chorar.

 

Era domingo e de novo

O João viria do povo

Para a cancha das carreiras?

 

Ou será que as esperanças

Iriam com as sangas mansas

Como a flor das corticeiras?

 

            II

Coração batendo aflito

De incerteza e saudade,

Pois o João anda esquisito

Depois que foi pra cidade.

 

De fato, nunca entendeu,

Porque João se foi embora,

Pensando que a esqueceu

Chininha soluça e chora.

 

Lembrando do beijo roubado

O rosto rubro, corado,

Aninhado em seu regaço.

 

E a promessa de que um dia

João, pra sempre, a levaria,

Na garupa do Picasso.

 

            III

Chininha, agora casada,

De tanto olhar da janela

Desce em silêncio na escada

Vai esperar na cancela.

 

Debruça os olhos molhados

De um verde, tal como os pastos,

Solta suspiros dobrados,

São seus sonhos quase gastos.

 

A cancha movimentada,

Chininha desesperada

Mordendo a ponta da trança.

 

Mas, enfim, lá vem João,

Traz amor no coração,

E um sorriso de esperança.