Extraviei meus sonhos nos confins dos anos
que, de tropa mansa,
fez-se chimarrona,
viraram alçados, xucros, araganos,
com patas ligeiras de
potra gaviona.
Na parede, ao gancho, pendurei os bastos,
sofrenei
cansaços de uma vida dura,
estendi num caibro os aperos gastos,
memorial
de um tempo em que sobrou fartura.
Recontei espigas no paiol de milho,
derrubei
a cerca, para que o tordilho
buscasse
seu rumo pela sesmaria.
Que não fosse ele mais um sem-destino,
pois é triste o fim
para um viver teatino
quando não se tem
nenhuma companhia.
Balanceei os cobres, as perdas e os lucros,
total, o que sobra não
chega a um real,
quebrei tantos queixos de
cavalos xucros,
então me pergunto, só
isso afinal?
O meu abas-largas, já muito surrado
da chuva e do sol, tostado
na lida,
dá pena de vê-lo, ali,
pendurado,
sofrendo
calado, num sopro de vida.
Faz nó na garganta quando olho as esporas,
alheias ao tempo e à
marcha das horas,
erguidas
num prego, tristonhas, silentes.
Me lembram
histórias lavradas no lombos,
em lutas de domas, corcóvos e tombos,
quebrando corinchos de potros valentes.
Escuto o assovio do vento na frincha
roçando de leve as cordas
do pinho,
e vejo a corruíra pousando
na quincha
do rancho onde a ave fez
casa e fez ninho.
Recordo os rebanhos de sonhos perdidos,
há muito extraviados nos
anos a fio,
um mundo de amores, que
hoje esquecidos
deixaram-me
o rancho e o peito vazio.
Então, viro o mate, e o amargo se amarga,
E os olhos se inundam e a voz já embarga,
campeio horizontes cá
dentro de mim.
Encontro somente vestígios e rastros,
bandeiras
de lutas pendidas dos mastros,
e um sol que declina, no
rumo do fim.