SOU GAÚCHA
Salvador Fernando Lamberty
Sou gaúcha fronteiriça
do velho pago liberto,
nasci num rancho modesto
coberto de santa-fé...
Cresci nos verdes regatos,
tendo o perfume dos matos,
brincando de bem-me-quer.
Sou gauchinha charrua,
simples como a natureza,
não conheço a tal tristeza
vivendo aqui no interior...
Adoro a simplicidade,
sei domar a falsidade
para não sofrer por amor.
Uso cabelos compridos
e um vestido assim de chita,
dizem que sou bonita,
mas não sei se sou assim...
Levanto-me bem cedinho
para ouvir os passarinhos
que vêm cantar no jardim.
Já estou fazendo as lidas
quando o dia vem clareando.
passo as tardes campereando,
não ligo para tempo feio...
Sei montar qualquer cavalo,
animais xucros eu pealo
e sei até parar rodeio.
Sou assim-
com pouco ensino-
não conheço a moda nova,
mesmo assim já tive a prova
dessa vã filosofia...
Não sei palavras bonitas,
sou uma boneca de chita,
mas não sou miss fantasia!
Gosto de ir aos fandangos
dançar xotes e vaneiras,
as tradições galponeiras,
eu cultivo com prazer;
faço delas o meu rito
e desses campos bonitos
minha razão de viver.
Dizem que sou atrasada,
uso o dialeto pampeano,
carrego o dom franciscano
pelas coisas naturais...
Sou mesmo bem diferente
do tal homem de postura
que, em nome da cultura,
faz coisas irracionais!
A resistência farrapa,
justifica o meu alento...
Sou tão livre quando o vento
que sopra sobre as campinas...
Morrerei, se for preciso,
por meu chão, que és um paraíso,
e as belas tradições sulinas!