VOLTANDO À QUERÊNCIA

Autor: Roberto Mara

 

Em nome do pai... do filho...

Buenos dias, solidão...

 

Quem volta pra querência,

Deve de ter jeito e tenência,

Pra não magoar o passado,

Que um dia, “de abandonada”,

Ficou solito, na espera,

Na sombra desta tapera

Com mais fantasmas que gente....!

 

      - Oh de casa...

      - Para quem?

      Se nem cachorro há por perto...!

      Se até parece que “antonces”

      Também partiram daqui.

 

Ah, solidão-guarani...,

A dos que foram mermando,

Perseguidos e peleando

Contra invasores “estranja”...

 

      Oh, gente...

      Ninguém aqui?

      Pudera...!

      Muita légua... lá no tempo...

      Muitas léguas de horizontes,

      Quando os verdes e os aprontes

      Prometiam vidas novas.

 

Quando mocito, co’as trovas

Que trazia na coragem

De juventude sem freio...

Quando crei ser patrão

Das minhas forças e anseios...

 

      Quando cinchei meu potrito

      Cheio de fogo nas patas,

      Rumo aos “sem rumos” das matas

      Dos boitatás... e sem amadrinhador,

      Fui me embrenhando nas horas

      Das madrugadas cantoras...

      De catres sujos de nadas,

      De impossíveis namoradas...

      De “mundos” sem amanhãs...

 

Quando achando

Que em mim mesmo

Nasciam tempos a esmo,

Qual touritos de aluguel...

Quando beijos a granel

Sangravam carne e desejos,

Namoricando lampejos

De estrelinhas de papel...

 

Quando cheio de arrogâncias

Sonhei ser dono de estâncias

Com verdes, rios e mel...

Quando “ela” chorando disse:

- Não vai...

É pura crendice

Com ecos de “sapucaí”

 

      Quando a velhita...

      - Oh, mãe...

      Deus a tenha minha santa,

      Também pedia:

      Mio figlio, non vá...!

      Mio figlio, nón vá...,

      Cheio de empáfia dos novos,

      Sai escarceando pros povos

      Sem medir cancha ou rival...

 

Até que um dia... ao final

Da cancha reta dos anos,

Os matungos desenganos

Foram quebrando o piazito

Cansado, velho, sem grito

Desbuçalado, flaquito,

Já nem mateio solito,

Co’as ancas cheias de pó;

 

Sem voz, sem eco, só...

No meio da imensidão,

Frio, sem fogo de chão...

Madrugada sem galpão;

Tropeando sombras, alpedo

Neste reponte do medo,

De remorsos e esqueletos,

De sonhos analfabetos

Doendo no “eme” da mão...

 

      Oh, de casa, meu passado

      Com licença, solidão...

      Alguém convida pra um mate

      Este andarengo sem chão?

 

      É triste montar ausência

      Depois de um tempo “tempão”...

 

Meu retorno é penitência...

Sorrisos que abandonei...

Prantos que não ouvi.

 

Oh, meus sonhos... me perdoem...

Com licença minha querência...

Perdão... perdão... voltei.