COISAS D’ALMA
Pedro Jr. da Fontoura
Meus olhos se perdem lentos
Mirando essa estrada longa
Que guarda mistérios e sonhos
Na poeira do próprio tempo!
Parece até que foi ontem,
Quando encilhei o pingo
Tapeei o chapéu na nuca
E, ao tranqüilo me fui
Buscar infinitos novos.
Na minha mala de garupa
Foram comigo os desejos
De encontrar não sei o que...
Minha juventude ao vento
Com esperanças de olhar!
Como foi longo o caminho
Que eu tive que cruzar!
Encontrei pelas beiradas
A experiência dos mais velhos
E conheci o respeito.
Somente quando colhi
O primeiro botão em flor
Aprendi a importância de
semear
Cada vez mais o amor.
Os espinhos machucaram
E a tristeza fez morada
Em algumas pausas do mate.
As distâncias apertam o peito
E solita
a estrela D’Alva
Entendia o meu cantar...
Foi o poncho dos invernos
À aquecer meu coração!
Além do cavalo,
E do cusco
companheiro,
A guitarra se irmanava
Nas horas de solidão
Num compasso de milongas
Brotadas em algum galpão.
É de tristezas e alegrias
Que se resume os dias
De um cavaleiro da paz!
Andei, andei bem mais que
meus sonhos
Perdendo algumas vezes
Até o próprio brilho do
olhar...
Aprendendo de imediato
Que errar faz parte da lida
E sempre tem hora na vida
Pra gente recomeçar.
A saudade me judiou
Machucando sentimentos
São os mangaços
que o tempo
Esporeando dá num cristão,
Para ensinar que os caminhos
São esperanças e ilusão...
Quantos os recuerdos buenos
Que conservo das andanças,
De quando abrindo distâncias
a
Estância
deixei pra trás...
Observando a natureza
Descobri nas coisas simples
A essência da beleza!
Descobri no teu sorriso
Corcovos do coração!!!
E é por isso,
Que hoje mateando
eu paro
E volto ao fundo do tempo
Buscando ecos no passado
Que o presente não perdeu.
Continuo eu,
Admirando os caminhos
Distribuindo mil carinhos
Nos acordes da emoção...
Conservo ainda
As tradições dos meus pais
E os sonhos de liberdade
Eu não perderei jamais.
O tempo passou depressa
E o guri, hoje cresceu
As ânsias permaneceram
E o gaúcho não morreu.
Ainda é o mesmo centauro
Lutando por seus ideais
Estes sim hoje são outros
Porém, alguns são iguais.
Meus olhos se perdem lentos
Mirando essa estrada longa,
Quem busca as coisas d’alma
Morre de amor pela vida!!!