COBERTA D´ALMA
Pedro Júnior da Fontoura
A morte pinta de negro
Este encontro com a dor.
Uma lágrima, um soluço,
Na muda ausência do amor.
Meu litoral tá de luto
- Ondas tristonhas no mar -
Há silêncios nas areias
E um manto escuro no ar.
Mãos cerradas sobre o peito
E um rosário entre os dedos.
Luz de velas revelando
Angustias quase em segredo.
Sinal da cruz, muita fé,
É só uma transposição.
Quem bota flores no túmulo
Solta a voz numa oração.
Mesmo sabendo que é assim
O final de cada vida,
É dificil compreender
Os mistérios da partida.
Fica um buraco no peito,
fica uma ausência perdida,
Imenso vazio na alma
no aceno da despedida.
Fica uma guitarra muda,
A cuia longe da mão,
Um sentimento quebrado
E a fé em cada oração.
Fica um desejo de paz
Num outro mundo de luz,
No lume da vela acesa
Na cabeceira da cruz.
Fica um coração partido
quando a morte leva alguém,
um poema inacabado,
uma cruz... e mais ninguém.
Na missa ao sétimo dia
Eu visto a coberta d´alma,
Me sinto mais da família,
Minha ansiedade se acalma.
É uma sensação estranha
Um arrepio pelo corpo.
É mais do que um compromisso
Vestir a roupa do morto.
Eu fico por quem se foi,
Sou madrinha espiritual,
“Coberta D´Alma” gaúcha
Folclore e santo ritual.
Tempo de ternos de reis,
Renasce meu litoral.
O mar está limpo e calmo
Na comunhão fraternal.
Eu visto a Coberta D´Alma
Sou madrinha espiritual.