UM VIOLINO
Pedro Darci de Oliveira
Na ruazinha do meu bairro
Quase em frente a minha casa,
As lembranças criavam asas
Quando um violino tocava,
Porque de manso embalava
Sonhos que não voltam mais,
Momentos angelicais,
Que minha alma guardava.
Era um remanso nas águas,
Mas eu viajava com elas,
Como um barco solto às velas
Com medo do sol se pôr.
Me postava ao criador
Porque da graça recebida
Era a suprema guarida
Do mundo de um sonhador.
As notas eram melancólicas,
Suaves, tristes, muito calmas,
Armonizavam minha alma
Num acalanto divino.
O vento assobiava fino
Em seu cantar de improviso,
Colocando o paraíso
Dentro daquele violino.
Me parecia um chamado,
Vindo talvez ... de outro mundo,
Que transformava os segundos ...
Em tempos de eternidade.
Aquela estranha ansiedade
Era meu próprio arrebol,
E o canto do rouxinol
Me traduzia ... “Saudade”.
O músico, era um moço,
De sorriso refinado,
Qual um nobre em seu reinado ...
Com traços vivos no olhar ...
Quando se põe a tocar
Em seu trono sobre rodas,
É como quem dita a moda ...
Fazendo o mundo cantar.
Bailam as folhas no vento
As borboletas festejam
Os grilos todos solfejam
A partitura de um hino.
E o moço do violino
Mareja o olhar celeste
Quando a brisa o reveste
Num sorriso de menino
Não nascera diferente
Foi guri igual aos outros,
Montava o lombo dos potros
Na euforia de vencer ...
Rodou ... e sem mesmo saber
...
Perdeu bem mais que a carreira.
Hoje na sua cadeira
Busca força pra viver.
Talvez não sirva de exemplo
Porque a vida é mesquinha,
E a dobra da sua espinha
Foi uma esperança rompida.
Mas deus é pai e age certo
E este era o seu destino,
Nas azas deste violino
Buscar razões para a vida.
“Só deus é um espírito puro”.
Os homens são imperfeitos ...
É torto o lado direito
Na fisga de um anzol ...
Mais lindo que o Por do sol
É um sentimento profundo ...
De paz ... fluido do mundo
...
“Num violino