ROMANCE DE PRIMAVERA
Paulo Ricardo Costa
A primavera chegou...
Chegou florindo a copa dos Ipês solitários...
Tapeteando a grama verde da coxilha adormecida,
Que se arrasta sob ponchos de Maria-mole, em flor;
Chegou trazendo nas gotas do orvalho cristalino,
O brilho das pérolas que a noite fria espalhou;
E na cantiga do vento pampiano, uma melodia triste,
Com versos quebrados ao meio que a Pampa recitou;
Chegou levando a madrugada no bico dum galo novo,
Deixando estalos de gravetos se debulhando em brasas,
E num mate topetudo, o gosto amargo da dor...
Dessas saudades de amor com a lembrança das casas;
Há! Primavera... Dizem que um homem não chora,
Mas como dói a saudade da china que a gente ama,
Que, às vezes, até perde o sentido, na busca do dia novo,
Com imagens repentinas, pelo bailado das chamas;
Os primeiros raios do sol vão beijando o campo vasto,
Desenhando nas coxilhas sombras de nuvens cardadas...
Que se arrastam nos aguapés, nas guanxumas e maçanilhas,
Espelhando um céu bem azul, sobre o vidro das aguadas;
A gente que gasta a vida sobre o recals de um
cavalo...
Sem tempos pra despedida, nem prum farrancho
qualquer,
Anda por aí, pelas estâncias, domando potros alheios...
Às vezes tem que achar tempo pras carícias de uma mulher;
É isso que hoje eu faço. Boto minha pilcha domingueira,
Encilho um baio encerado que é pra horas de precisão...
E tomo o rumo do bolicho, num galopão
apressado,
Que a linda do meu agrado já me espera no portão;
Ela!...Ela é a flor mais bela que um par de olhos já viu!
Cabelos negros, cacheados, banhados em águas de sanga,
Escondendo na tez macia, aquele perfume da açucena...
Que enfeita a pele morena com os lábios cor de pitanga;
Esta é a mulher da minha vida, mesmo ainda sem tê-la,
Que até o brilho das estrelas se ofuscam junto dela...
Suas carícias são remansos de uma água cristalina,
Que noite morna ilumina na moldura de uma janela;
Por isso venho encontrá-la matando minha sede de amar,
Pois preciso do teu olhar pros sonhos que são quimeras,
Sorvendo o néctar da vida qual, a abelha que suga a flor...
Pra me encantar de amor, num romance de primavera;