ROMANCE DE LUA GRANDE
Paulo Ricardo Costa
A noite traz seus encantos...
Vestida em ponchos de luz,
E a um par de olhos, seduz...
Tisnado a prata de um
manto...
Que inunda as flores do
campo,
Entre perfumes de açucena...
Quando sonhar
vale à pena,
O amor é tropa em reponte,
Bebendo a água da fonte...
Dos lábios de uma morena;
Encilho belas lembranças...
No potro de uma saudade,
Quando tua imagem invade,
No corredor das distâncias,
Matreiro como esta ânsia,
Que minha alma atropela,
Quando a lua mais bela,
Vestida de véu e grinalda...
Pelo horizonte desfralda,
Pra se debruçar na janela;
E ela me traz uma imagem,
Com olhos em cor de jade,
Qual a mais bela divindade,
Que enfeita esta paisagem,
Bendita sejam as miragens,
Que dão vida às madrugadas,
Espelhando-se nas aguadas,
Que ao campo descortina,
Para alimentar as retinas...
Num véu de noite, estrelada;
Daqui, de onde te vejo...
Por entre os galhos do
arvoredo,
Guardando nossos segredos,
E algum sonho, de andejo...
Eu sinto o gosto de um beijo,
Timbrado em ouro e metal,
Quando um majestoso ritual,
Unia o calor de quatro mãos,
Que chega aqui pr’ao
galpão,
Com o cheiro do aguapezal;
Que as horas longas que
passo,
Aos tombos com a solidão...
Atiçando um fogo de chão,
Que já não aquece o espaço,
Só o calor dos teus braços,
É que me trazem acalanto,
Enquanto um grilo faz canto,
Num contraponto de cigarra,
Pra alma soltar as amarras...
E os olhos inundar de pranto;
Quem diz que homem não chora!
É porque não sabe o que é
amar,
Como pode não poder chorar!
Se as lágrimas, é um rio corrente...
Quando a alma da gente...
Transborda na inércia da dor,
Por saber que àquela flor...
Que era a parte doce da vida,
Partiu sem uma despedida...
Pelo vazio de um corredor;
E nestas horas de ausência...
Que o galpão veste-se de
luto,
E até o silêncio eu escuto,
Martelando minha consciência,
Talvez exista uma ciência...
Pra um amor que perpetua,
Com a noite banhando nua...
O manto santo da aguada,
Pra’os olhos ternos d’amada,
Virem espelhar-se na lua;
Mas ficaram flores murchando,
No que restou de um jardim,
E outras,
que havia em mim,
Viverão não sei até quando...
Talvez estejam esperando,
Bem antes que a noite
finda...
Ver o corpo da minha linda,
Estendido sobre um catre,
Ou afogando uma saudade,
Num mate de boas vidas
Que o tempo tenha levado,
O que eu deixei pra depois,
E o rancho que ergui pra
dois,
Possa até ser habitado...
Pois, se for do teu agrado,
Boto a encilha num redomão,
Enfreno um potro coração...
E dou um destino pra gente,
Vendo patear
em teu ventre,
Um pithãozito
chorão;
E daí, eu farei poemas...
Na clave de uma lua cheia,
Enquanto o vento ponteia...
Nas folhas das açucenas,
Se vida anda, pequena...
Para tanto amor que trago,
Talvez ao mundo me largo,
Qual um cometa errante...
Para ser-te apenas, amante,
Nas noites mornas do pago;