QUANDO ME APARTEI DA QUERÊNCIA
Paulo Ricardo Costa
Um dia, eu peguei a estrada,
Sem saber para onde ia...
Pois o mundo que eu queria,
Não tinha rumo, nem parada,
Sombras grandes, ofuscadas...
Bebendo a angustia das horas,
Que rumeia ao mundo afora...
Aguando o véu das retinas...
Quando o sonho descortina,
O corpo pede pra ir embora;
No silêncio dos corredores,
Em cada passo que eu dava,
Meus olhos se ofuscavam...
Vendo a tristeza das flores,
Na solidão, vinham às dores,
No poncho negro, a saudade,
Bebendo as gotas da tarde,
Que ao horizonte se findava,
Enquanto o sol se deitava...
Nos meus sonhos de liberdade;
Há! Sonho de liberdade...
Mas que liberdade é essa?
Se lá o tempo não tem pressa,
E a gente vive, de verdade...
Têm-se espaço à vontade,
Silêncio, paz e abrigo...
A prosa franca dos antigos,
O respeito co’a Mãe e o Pai,
E uma ternura que vai...
Juntando velhos amigos;
Sem tem as rondas de lua,
Nas noites quentes de verão,
Um fogo grande no galpão,
Pras madrugadas charruas,
E quando o inverno incrua,
Um poncho feito de casa...
Cambona chiando nas brasas,
Pr’um mate véio topetudo,
E um milongão macanudo,
Pra’os sonhos criarem asas;
E pelas tardes de domingo,
Tem carpeta e carreiradas...
E alguma boca pintada,
Pra garupa do meu pingo,
Deixando algum respingo,
Desses perfumes caseiros,
Que enciúma o campo inteiro,
E até as flores do aguapezal...
Fazendo um taura, bagual,
Se perder n’algum entrevero;
E quando ronca uma cordeona,
No chão batido de uma sala...
A alma bugra quase se cala,
Pras carícias de uma dona,
Quando se pára redomona,
Numa quentura de choco,
Pena que um dia é pouco,
Para que gosta do apego...
E faz ninhos dos pelegos,
Num romance véio dos “loco”;
E numa tarde de rodeio...
Dobrando boi brabo a pealo,
Ou no lombo xucro dos “malos”,
Enforquilhado num arreio...
Floreando num talareio,
De mango, tentos e esporas,
Que até a sombra se apavora,
Desse costume “bendito”...
Deixando o corpo, solito...
E se bandeia campo afora;
Há! Saudade daquele tempo!
Que a alma, tanto, reclama,
Quando a angústia faz cama,
Num quarto de apartamento,
Remoendo os sentimentos...
Do velho sonho povoeiro,
Que vai corroendo, por inteiro...
O coração de um vivente,
Aqui morrendo lentamente,
Longe do mundo campeiro;
Por tudo o que eu já passei,
Que a vida nunca me negue,
De rever minha Vista Alegre,
E o mundo que eu lá deixei...
Se, pra muitos, tempo é lei,
Pra mim é mais que existência,
Enquanto tiver consciência,
E a vida me der à graça...
Pra um dia estender a carcaça,
No chão da velha querência;