FLOR DA QUERÊNCIA
Paulo Ricardo Costa
Era a prenda mais linda...
Que um par de olhos queria ver!
As noites mornas do rincão,
Às vezes se enchem de lua,
Pra ver uma imagem charrua,
Mista de Índia e de Santa...
Que guarda mel na garganta,
Em tons de notas aveludadas,
Qual clarim nas madrugadas,
Quando o campo se levanta;
Nos olhos, um breu de noite,
Tisnado em véus de luto...
Que o taura mais astuto,
Não se animava enfrentar,
Tinha lampejos no olhar,
Mescla de aurora gaviona,
Dessas que “as vez” se adona,
Das copas dos caraguatás;
Na boca, lábios rosados...
Qual pitanga amadurecendo,
As que ficam se escondendo,
Pra serem mais adocicadas...
Duas fitas, bem trançadas,
No negrume dos cabelos,
Duas flores, dois desvelos,
Pelas tranças, penduradas;
Era a prenda mais linda...
Que um par de olhos podia ver!
No corpo a própria escultura,
Sob um vestido de chita...
Parecia até mais bonita,
Quando o sorriso aflorava,
Muita gente se encantava,
Com gestos de reverência,
- Era...A flor da querência,
Que aos poucos desabrochava;
Aquela noite, jamais esqueço,
Foi num final de Janeiro...
Meu coração caborteiro,
Pateava aqui dentro do peito,
De longe, vendo os trejeito,
Que vinha daquela prenda,
Filha do dono da venda...
Um bolicheiro de respeito;
Meu olhar, foi um convite,
Do dela veio a resposta...
É quando a vida nos mostra,
Os caminhos da felicidade,
Havia uma certa ansiedade,
Brotando do fundo da alma...
Que até o coração batia palma,
Assim, meio fora da realidade;
Era a prenda mais linda...
Que um par de olhos já viu!
De tão grande esta beleza,
Que até as estrelas se turvam...
As flores do campo se curvam,
Num lampejo, reverenciado,
Vendo aquele corpo moldado,
Cheirando a pólem de açucena,
Deusa Profana, a morena...
Na garupa do meu tostado;
Assim o céu se enfeitou...
Pra contemplar a tua beleza,
Quedou-se toda a natureza,
Que majestosa entra em cio,
Quando se banha num rio...
Co´a tarde morna que finda,
O corpo da prenda mais linda,
Que um par de olhos já viu;