Paulo Ricardo Costa
De onde
vem o sentimento?
De onde vem esta saudade?
De onde
vem esta vontade...
Dando rédeas ao pensamento?
Qual trança crua de um tento,
Que a alma faz a seu jeito...
Quando a cancela dum peito,
Quebra o silêncio da tarde,
E gotas salgadas, invadem,
De um rio já fora do leito;
De onde me vem esta dor?
Será que já nasci com ela!
Que vai amargando a goela,
Até o mundo perder a cor...
Quando o vazio do corredor,
Vem trazer-me a imagem sua,
Chegando, em noite de lua...
Num velho ruano, de encilha,
No reponte de uma tropilha,
Por esta Pátria Charrua;
Pois é assim, meu velho Pai,
Em pensamento, lhe busco,
Quando chega o lusco fusco...
De uma noite quieta que cai,
Se um rio de lágrimas me trai,
E duas cacimbas derramam,
Talvez, é porque reclamam
Da dor que sente o teu piá...
Quando os olhos põem-se à “chorá”
E pelo silêncio, lhe chamam;
Sentado, ao frio da tapera...
Que vai morrendo ao relento,
Só tenho o gemido do vendo,
Quedado ao tempo de espera,
Já se foram as primaveras...
Muitos verões e outonos...
No galpão, o mesmo abandono,
Depois da sua triste partida,
Nunca mais teve uma vida,
Nem pra uma noite de sono;
Mas ainda há por entre pó...
Algum tento e esporas caladas,
O laço e as rédeas rebentadas,
Numa angustia de dar dó...
As barrigueiras, cheias de nó...
Pelegos e chergas já gastos,
O chapéu, o poncho e o basto,
Furados à boca das traças...
Paredes negras de fumaça,
Deitaram à paz destes pastos;
Bem lá, no açude da frente,
Onde se banhava a cavalhada,
Encostado ao fio da estrada,
Guarda as memórias da gente,
Que vê o mundo de repente,
Caindo sobre esses ombros...
Co’a vida dando-lhe um tombo,
Como um pealo certeiro,
Quando se vai um campeiro,
Na Pampa fica-se um rombo;
Pra tudo há um recomeço...
Pra vida haverá outra vida,
A morte não é uma despedida,
Pois desse assunto eu conheço,
Meu velho Pai, lhe agradeço...
Tudo o que destes para mim,
Se Deus, Patrão quis assim,
E chamou pra estância do céu,
É que há uma tropa a-lo-léu,
Pra reculutar em algum confim;
Um dia a gente se encontra,
Pr’um mate entre Pai e filho,
Num desses sonhos andarilhos,
Que às vezes vem tomar conta,
Enquanto a lua se apronta...
Para a sua ronda tardia,
A gente se enche de poesia,
E se manda pelo universo,
Levando a Pátria num verso,
Pra o rancho das três Marias;