CASA GRANDE
Paulo Edson Paim
O corredor...
com um quadro de São Jorge na parede,
muitas portas e aposentos,
e uma cozinha aconchegante.
A casa já esteve muito cheia
de gente.
Antigamente.
Quando foi construída,
o projeto previa abrigar quase uma dúzia de vidas.
Cinco filhos pequenos e
espertos...
e eles, por certo, outros tantos netos.
E ainda havia a empregada
roliça,
que sabia tudo sobre os donos da casa,
mas não opinava, nem tinha preguiça.
Um dia...
a empregada pediu as contas,
cansada da rotina que a acompanhou desde menina...
e partiu para outros mundos.
Os cinco pássaros...
já a muito haviam abandonado o ninho.
Aqueles pássaros, hoje os
filhos.
Os filhos que não tem tempo
para nada.
Correm de um lado para outro,
tentando provar que são melhores que seus pais,
sem saber que não conseguirão supera-los, jamais.
Os netos...
Pobres, pela ordem natural
das gerações,
andam de ônibus e descem em longínquas estações.
E o vento... que faz bater
uma que outra porta da casa grande...
para dar a avó a impressão
de que há mais
gente por perto,
é na verdade o vento do deserto.
E em letras garrafais
vai-se compondo a palavrea
solidão.
Que se esculpe
num chimarrão sem parceiro...
e fica
escondida, dividida em capítulos,
diante dos olhos, na tela da televisão.
São tantas as histórias...
e contá-las a quem?
Incontáveis memórias...
aos ouvidos de ninguém.
Como o sopro do vento,
Que é só e vive apagar
imagens
com o pincel amarelo do tempo,
tudo perdeu o brilho e as forças.
Os bois da canga mostraram-se
débeis.
Depois de quatro ou cinco
invernos,
Os pessegueiros e ameixeiras
do tão bem cuidado pomar,
pararam de produzir frutos naturalmente.
Os fungos deliciaram-se
e toma conta do arvoredo.
Ah! Casa grande!
Tão bem projetada e tão bem
construída
é hoje um abrigo aos ecos...
que substituem os netos da avó.
Ela ainda vai a uma das
tantas janelas,
à espera de uma visita,
que lhe encha outra vez o coração..
Sua vida agora é um
labirinto.
É como um corredor...
tal e qual divide a casa.
Um corredor cheio de portas
abertas...
Que levam aos aposentos dda solidão.
São tantas as histórias...
Mas
conta-las a quem?
Centenárias memórias...
aos ouvidos de nimguém.
E a avó...
se debruça em uma das janelas...
á espera de qualquer um...
Entre os tantos netos dela.