ALENTO
Paulo Edson Paim
O
pensamento criou asas...
e
sobre as imensas casas...
fez
o ponto de partida.
Quando
o campo fica à distância...
o
orvalho brota nos olhos,
...
o céu fica turvo,
as
nuvens brancas; cinzentas...
e
nesse emaranhado de cores e ânsias...
o
cenário da infância...
vem
estampar em m’ia frente.
Parece...
foi onteontem...
que
tive chupeta... e boneca...
e
trança nos cabelos.
parece
que ontem...
tive
petiço... uma dezena de goiabeiras...
uma
amoreira... e muitos sóis,
que
rodavam – girassóis –
amarelos
qual o ouro...
e
eu acreditava, estar na lua.
E
brilhei...
-
mais do que a mais bela estrela...
que
despontava no azul.
Nas
noites...
quantas
vezes teimei... e teimei...
contar
estrelas – uma a uma –
e
me perdi... nas contas.
E
nos ventos...
empinei
pandorgas e lançei malmequeres.
E
não sei se o minuano...
- o
tirano de agosto -
ou
aquele que soprava tranqüilo...
no
entardecer de janeiro...
não
sei qual desses ventos...
o
que me enviou - sem volta - para a cidade...
e
varreu cada palavra da minha história...
para
o vale infinito da saudade.
Bem
que eu quis resistir,
mas
o campo... os cinamomos...
a
gadaria... a casa antiga...
foram
ficando minúsculos
aos
meus olhos que insistiam...
em
fitar as léguas percorridas:
em
somente olhar... para trás.
Quando
o calor da nave-coração...
invade
o pensamento,
a
saudade é o sentimento...
mais
terno que a eternidade.
O
verde do interior...
-
isto eu bem sei - é a mais bela cor
que
um campeiro pode ver.
E
quando a alma incendeia...
a
terra, vasta e vermelha,
-
vista por entre as calçadas -
é
alento pr’um regresso a origem...
que
sonho... e não tarda a vir.
E
assim... por certo...
quando
essa saudade campeira cria asas,
é
tempo de cambiar o apartamento por uma chácara...
e
voltar a crescer com cerne e matiz...
e a
cultivar com amor... a própria raiz.