Ao Pajador Missioneiro

Paulo de Freitas Mendonça

 

O silêncio prenuncia

um vazio no universo

estende o dono do verso

como quem vela a poesia.

Revelam-se noite fria,

poetas em penitência

e a paja a pedir paciência

para o gélido pampeiro.

Ao Pajador Missioneiro

não cabe eterna ausência.

 

Mostra o vermelho do chão

no lenço que não acena.

Pinta uma imagem pequena

de quem foi imensidão.

Para quem vê coração

ressalta plena consciência

que o conteúdo é essência,

não a casca do campeiro.

Ao Pajador Missioneiro

não cabe eterna ausência.

 

A cara da lua cheia,

pálida, desenxabida,

parece sugar a vida

à fraca luz que prateia.

O cosmo, em sua ceia,

indecifrável à ciência,

supre a sua carência

co’a energia do copleiro.

Ao Pajador Missioneiro

não cabe eterna ausência.

 

Há uma nuvem de luz

e nela uma face vara

com energia mais clara

que só a Ele faz jus.

Desprega-se de sua cruz

em natural evidência.

Planta na semiconsciência

à seara do troveiro.

Ao Pajador Missioneiro

não cabe eterna ausência.

 

O céu carente de aceno,

sem rima, recolhe temas

e deixa vagar poemas

machucados de sereno.

A terra levou um bueno

pra sempre e sem clemência.

O pranto, por insistência,

ferve a alma no braseiro.

Ao Pajador Missioneiro

não cabe eterna ausência.

 

Ficam o som, a imagem,

e a letra aprisionada.

Vai o tudo que é nada

e o nada é todo mensagem;

é chuva, pó, estiagem,

sombra, luz, pampa, querência

guitarra, irreverência

e último verso primeiro.

Ao Pajador Missioneiro

não cabe eterna ausência.

 

A vida que é um jogo

não conta o tempo na tarca.

Só marca que possui marca.

A quem não tem não há rogo

Só timbra com ferro e fogo

na anca da existência,

quem viveu com excelência,

e a este, saco o sombreiro.

Ao Pajador Missioneiro

não cabe eterna ausência.