COMO TORNEI-ME O QUE SOU
Osvaldo Machado
Todo vivente que nasce
traz o destino marcado.
Uns chegando a doutor,
outros chegam á advogado.
Quanta gente analfabeta...
Quanta gente bem letrada...
Gente com muito dinheiro
e outros que não tem nada.
Por ser filho de pai pobre
não consegui estudar.
Já comecei trabalhar
quando a infância me deixou.
Nem a sorte me ajudou
pois nunca juntei dinheiro.
Talvez, por ser bom parceiro
que hoje sou o que sou.
Rapaz solteiro e bem jovem
e a vida, inteira pra frente.
Sempre quis ser bom vivente
nos tempos que era “brôto”
Aragano que nem potro,
bonito como uma fita,
dinheiro e mulher bonita,
só via nas mãos dos outros.
O ofício me moldou
do jeito que o patrão quis.
Trabalhava o dia inteiro
mas me sentia feliz.
Ao ver uma novidade
logo metia o nariz.
No meio dos
mais sabido
me sentia mais perdido
que filhote de perdiz.
Ainda cedo me larguei
que nem potro redomão.
Sentei praça na milícia
sem saber quem é o patrão
Pra ganhar os meus trocados
pra poder comprar meu pão
ainda não era meu dono,
mas também não era peão.
Que nem bugio em pinheiro
eu pulei de galho em galho.
Mas sempre atrás de trabalho
que pudesse melhorar.
Sempre pensei em estudar
para polir o meu ser,
e também para aprender
o que não sabia ensinar.
Muitos anos trabalhados
e a vida meio vivida.
Me
aposentei pro trabalho
sem me aposentar pra vida.
Tive filhos, plantei árvores,
com a missão meio, cumprida.
Dentre as coisas que fazia,
até escrevi poesia
numa prosa divertida.
Juntei algumas riquezas
mas nem uma material.
Todas com valor simbólico
de relevância especial.
Ao pesquisar nos arquivos
engarupado nos livros
fiquei cidadão, afinal.
Tudo o que adquiri na vida
até foi muito pra mim.
Pois nunca pedi riqueza
ao meu Senhor do Bom Fim.
Minha fortuna, são sonhos,
de poder algo mudar
e de poder aprender,
para poder ensinar.
A vida, se indo embora,
as letras aos poucos chegavam.
Enquanto os anos passavam
estudava com ardor.
De educando, á educador,
apesar da minha idade.
Cursei uma faculdade
e me tornei, professor.