A VOLTA

Osvaldo Machado

 

Termina o rodeio grande

dos pagos da Vacaria.

Os entreveros noite e dia,

de laço e de gineteadas,

de chulas e de payadas,

de poesia e gaitaço,

numa procura de espaço,

pras danças das invernadas.

 

Foram longos, os concursos

cada qual mais disputado.

Onde o ginete, montado,

do lombilho, não se solta.

A curucaca se revolta,

Pois tomaram, o seu espaço.

O peão enrrudilha o laço,

Chegou a hora da volta.

 

O peão volta para casa

exibindo o seu troféu.

Joga num canto o chapéu,

larga  o pingo na mangueira.

Recorda a prenda faceira,

que conheceu no rodeio

na hora do sarandeio,

quando dançava a rancheira.

 

O aporreado está de volta

com a crina mio arrancada.

Voltou para a invernada,

ficou longe de sovéu.

O ginete perde o chapéu,

na hora que vai ao chão.

Com um maço de crina na mão,

Que guarda como troféu.

 

O bagual da minha encilha,

que além de amigo, é parceiro,

relincha, fica faceiro,

quando dou a última armada.

Volta alegre à invernada

e descansa com enlevo,

lindo, que nem flor de trevo,

pois é o dem-dem da eguada.

 

O parque fica vazio,

sem barulho ou movimento.

Apenas a voz do vento

e o cantar da passarada.

A gralha azul assanhada,

volta logo em algazarra,

faz dueto com a cigarra

na mata beirado a estrada.

 

Hoje o silêncio voltou

fazer parte da paisagem.

Emoldurando a imagem,

onde o sabiá vem cantar.

O avestruz, voltou a andar,

no estilo do seu jeito.

o bugio abriu o peito,

alegre em poder voltar.

 

Volta alegre, o papagaio,

também volta o canarinho,

a procurar o seu ninho

na copada do pinheiro,

e o tico-tico faceiro,

a procurar alimento,

onde fora acampamento

do poeta e do gaiteiro.

 

O quero-quero anuncia

que volta para o seu lar,

com intenção de ficar,

bem garboso e bem faceiro,

pois é o dono do potreiro

e também do descampado

é um sentinela avançado,

fazendo a vez de posteiro.

 

Até a grama está voltando,

depois de muito pisada.

Foi palco pra gineteada,

pra doma e tiro de laço,

foi local de algum abraço,

do peão com a namorada.

Foi a cama improvisada

pra amenizar o cansaço.

 

Ao encerrar o rodeio,

domingo ao anoitecer.

Começo então perceber,

que tudo volta ao seu lugar.

O povo, volta ao seu lar,

deixa o parque de repente.

Os animais ficam contentes,

alegre em poder voltar.

 

Até parece mentira

termina a festa, afinal.

Se volta tudo ao normal

falando bem a verdade.

Com toda sinceridade

eu sinto que não tem jeito,

pois aqui dentro do meu peito

está de volta a saudade.